22 dezembro 2006

Interações Humanas

Ingratidão

Gratidão: reconhecimento de uma pessoa por alguém que lhe prestou um benefício, um auxílio, um favor etc.; agradecimento.

Acho que não existe sentimento mais completo e tão superior quanto este. Mais complexo do que o amor, a gratidão é o verdadeiro ato de desprendimento e reconhecimento. É fato que precisamos de outras pessoas, mas nem todas as pessoas aceitam essa dependência. Quanto digo 'outras pessoas', estou falando de outros humanos em geral, não pessoas específicas.

A existência da sociedade demanda este sentimento, pois se a confiança é a base de todas as interações humanas, a gratidão é sua consequência direta. Gratidão nada mais é do que reconhecer o esforço feito por outra pessoa em seu (seu mesmo, não dela) benefício. Braços da gratidão estendem-se desde o agradecimento até o amor. A gratidão pode existir até entre inimigos, portanto, sobrepuja o ódio, a dor.

Mas o que poderia causar o inverso deste sentimento tão complexo, completo e necessário para a sobrevivência das relações humanas?
Bom, acredito que outros sentimentos bastante complexos também (como o próprio ódio, o ressentimento) podem, em alguém com caráter, digamos, não muito consolidado, alterar o fluxo normal desta interação. Alguém profundamente magoado com determinada situação, e que não tenha controle sobre seus sentimentos poderá projetar sua frustração em forma de ofensas dirigidas à pessoa que a ajudou.

Mas pq alguém faria isso? Bom, não existe maldade, nem bondade. Uma pessoa que nós julgamos que seja má não pensa isso de si mesma. Ela tende a criar situações que justifiquem seus atos, ou seja, qualquer que seja seu ato, não terá sido por maldade, e sim por determinada razão, mesmo que essa razão somente seja válida p/ ela mesma. Todos nós agimos assim, a cada momento justificando atitudes que, em teoria, seriam mal vistas pela sociedade.

A pessoa ingrata faz isso. Esquece que a outra pessoa sofreu p/ ajudá-la, e imagina uma situação onde a outra pessoa fez o que fez por interesse, por exemplo, e não por puro desprendimento e solidariedade. Um exemplo: se eu vender meu carro p/ dar todo o dinheiro p/ ajudar alguém, e essa pessoa for ingrata, ela não verá o ato, a atitude que eu tive de abrir mão de uma conquista pessoal em benefício exclusivo dela. Ela verá que eu fiz isso pq o carro estava velho, ou pq eu já queria vender o carro mesmo, e que eu poderia ajudá-la de milhares de formas diferentes sem ser com dinheiro e eu só penso em dinheiro e dinheiro não é tudo na vida, etc, etc.

Eu até concordaria: se eu fosse um bilionário e desse 5 mil reais p/ ajudar outra pessoa, isso não representaria prejuízo nenhum p/ mim. Mas o ato de eu vender meu carro p/ conseguir este valor mostra o desprendimento. Estou me prejudicando p/ beneficiar alguém.

Qual é o ponto, portanto? A pessoa ingrata não sabe que é ingrata. Pelo contrário. Ela realmente acredita estar certa, acredita que conseguiu alguma coisa sozinha, sendo que muitos se prejudicaram para que ela conseguisse isso.

As relações humanas são bem complexas, e este ponto é bem complicado. Basicamente, não podemos dizer que uma pessoa é a certa e as demais estão erradas, pois cada um de nós vive uma realidade diferente, pessoal. Cada um de nós percebe o mundo de forma diferente. Existe, claro, a realidade objetiva, compartilhada por todos nós, mas existem sentimentos (e a gratidão/ingratidão é um deles) que está fora dessa realidade objetiva. Ele existe puramente na percepção de cada um. Assim como a maldade e a bondade. A maldade sempre está nos outros, nunca em si mesmo.

Não existem pessoas boas, nem pessoas ruins. Existem situações e percepções diferentes.

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