27 novembro 2009

Unibanida

Agora que passou o frisson causado pela feinha da Uniban, quero falar. Em primeiro lugar, a menina é feia, mas isso não é motivo para o linchamento moral a que ela foi submetida. Em qualquer país sério, ela já estaria milionária. Como não estamos num país lá muito sério, tenho minhas dúvidas se ela vai ser indenizada, e, mesmo se for, se vai receber essa indenização tão rapidamente quanto as pessoas juntaram-se para agredí-la.

Em segundo lugar, ela estava com um vestido ridículo. Há quem ache provocante, mas ainda que estivesse pelada, ninguém tem o direito de encostar a mão nela. Se fosse o caso (se estivesse pelada), que chamassem a polícia para prendê-la, mas fazer o que fizeram é absurdo. Ou o quê? A mulher provoca, o cara estupra, e a culpa é dela? "Ah, mas ninguém ia estuprá-la". É? Bem, se, por exemplo, eu vejo um monte de gente armada vindo pra cima de mim e dizendo que vai me matar, fica tentando arrombar a porta do lugar que eu estou, etc, etc, eu realmente acredito que vão me matar. Ou então tá todo mundo apoiando o Maluf de 1989: "se o sujeito tá com vontade sexual, estupra, mas não mata"? É isso? Se a mulher provocar, pode estuprar?

Em terceiro lugar, ela estava na Uniban. Esse foi o erro dela. Qualquer universidade séria teria feito o que? Expulsado todo mundo e feito um pedido de desculpas público para a menina, e ainda teria dado a ela uma bolsa de estudos integral. Mas não. Os sábios mantenedores expulsaram a vítima. Daí já se vê o que é realmente importante na visão de quem manda por lá: a vida, a dignidade, o respeito, nada disso vale mais que a mensalidade de mais de 50 alunos! Imagina, perder todas essas mensalidades...

Muito bem, tudo isso posto, fiquei por muito tempo pensando nas justificativas que eu escutei. Coisas do tipo: "é verdade, isso não se faz, mas ela provocou né?", e por aí vai. Bem, o "mas" mata, né. Repito: se ela estivesse pelada, ninguém teria o direito de encostar a mão nela. Se ela estivesse pelada e dançando nua para provocar os alunos, nenhum aluno teria o direito de encostar a mão nela. Ou seja, qualquer "mas" é punir duplamente a vítima: uma vez pelo fato ocorrido, outra por responsabilizá-la, ainda que tangencialmente, pelo fato ocorrido.

Chegamos, socraticamente, ao problema: como proceder a análise da situação de forma que se entenda pq todas aquelas pessoas fizeram o que fizeram, sem engatar nenhum "mas" que responsabilize a vítima? É difícil, hein. Pensei que eram homens das cavernas. Mas não eram. Pensei que fossem da direita reacionária e religiosa. Também não eram. Enfim, pensei, pensei, e só obtive UMA resposta satisfatória: os homens que participaram daquilo são homossexuais enrustidos que gostariam de, eles próprios, estarem naquele vestidinho, mas, justamente por serem reprimidos, atacaram aquela menina que usava-o de consciência tranquila. E as mulheres são aquelas babacas que estão sempre se achando gordas demais, magras demais; aquelas que são "vítimas" dos produtos de beleza, que sempre acham que tem uma pelanca aqui, uma celulite ali, e, resumindo, têm vergonha do corpo que têm. Atacaram a feinha que não tava nem aí pro que achariam dela. Acharam um absurdo alguém ter amor próprio o suficiente para, mesmo que contra os padrões de beleza, simplesmente usou a roupa que a fez sentir-se bem. Nada mais.

Não deixa ser ser uma forma de lutar contra o sistema, né? E ela foi escorraçada por atacar, com sua atitude, o status quo. Tá, essa última parte é brincadeira.

Mas é isso. Pra mim, gente que se preocupa tanto com o que o outro faz a ponto de atacá-lo só pode estar com inveja. Eu sei, tô sendo simplista, mas, de novo: essa foi a ÚNICA resposta que atende os requisitos necessários: entender o ocorrido sem responsabilizar a vítima.

Isso dá uma bela tese de mestrado. Mal posso esperar pra ler a primeira... E aposto que vai ser algo sobre a ideologia no ato de usar o vestido, a luta contra o sistema, a revolução contra o status quo...