07 dezembro 2006

Drummond, Drummond

Na minha vida pessoas especiais são uma constante. Não determinadas pessoas, pois (quase) todas passam; a constante é o fato de sempre existir 'alguéns' especiais. Isso é devido ao fato de que eu amo a humanidade, não um ou outro humano especificamente (não é uma verdade absoluta, eu também amo certos humanos e humanas e raposas especificamente).

Pessoas são boas p/ gente. Na verdade, tudo é muito burro e muito simples. Mas as relações humanas são tão, tão simples que os humanos resolvem complicar tudo. Às vezes uma humana tem vontade de fazer coisas com um humano, mas não faz pq os outros vão olhar torto. Todos estão com a mesma vontade, mas a idéia é: "vamos reprimir p/ complicar um pouquinho?"

E nesses pensamentos tortuosos (a retidão é deus, lembram-se? Eu sou mais o caminho torto. Existem mais possibilidades) eis que me deparo com Drummond. Inspirador

Convite Triste
Meu amigo, vamos sofrer,
vamos beber, vamos ler jornal,
vamos dizer que a vida é ruim,
meu amigo, vamos sofrer.

Vamos fazer um poema
ou qualquer outra besteira,
Fitar por exemplo uma estrela
por muito tempo, muito tempo
e dar um suspiro fundo
ou qualquer outra besteira.

Vamos beber uísque, vamos
beber cerveja preta e barata,
beber, gritar e morrer,
ou, quem sabe? beber, apenas.

Vamos xingar a mulher,
que está envenenando a vida
com seus olhos e suas mãos
e o corpo que tem dois seios
e tem um umbigo também.
Meu amigo, vamos xingar
o corpo e tudo que é dele
e que nunca será alma.

Meu amigo, vamos cantar,
vamos chorar de mansinho
e ouvir muita vitrola,
depois embriagados vamos
beber mais outros seqüestros
(o olhar obsceno e a mão idiota)
depois vomitar e cair
e dormir.
____

Consolo na praia
Vamos, não chores
A infância está perdida
A mocidade está perdida
Mas a vida não se perdeu

O primeiro amor passou
O segundo amor passou
O terceiro amor passou
Mas o coração continua

Perdeste o melhor amigo
Não tentaste qualquer viagem
Não possuis carro, navio, terra
Mas tens um cão

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam
Nunca, nunca cicatrizam
Mas, e o humor?

A injustiça não se resolve
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido
Mas virão outros

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.

2 comentários:

Badoso disse...

Ah, quer dizer então que o André agora vai tomar absinto, admirar seu "spleen" e morrer antes dos 30 anos?


PORRA!

Anônimo disse...

É, como diria o divino Doistoiévsk, em "Irmãos Karamazovi": amo a humanidade mas odeio os humanos.