27 dezembro 2006

Elogio ao Amor Maior

O Amor Maior, doravante entitulado apenas 'amor', dura pouco. Uma noite, um fim de semana, um minuto, um segundo. Pode acontecer enquanto duas pessoas cruzam os olhares na rua. O dia das duas estará ganho, e nunca mais elas se encontrarão. Mas sempre existirá a dúvida: e se eu tivesse perguntando o nome dela...

Pode acontecer durante todo um fim de semana, quando duas pessoas decidem sumir do mapa. Desligam seus celulares, e vão acampar no meio do mato sem avisar ninguém. Aqueles dias serão inesquecíveis... Pode acontecer numa festa, enquanto dois adolescentes somem e vão *conhecer* o andar de cima, e o saldo é uma ex-virgem.

O amor está sempre na possibilidade. Não é à toa que o amor moveu revoluções na História, e sempre foi reprimido por entidades autoritárias, como a igreja (lembrem-se que o demônio está na incerteza). Casamentos são instituições racionais, que menosprezavam o amor e visavam fortalecer os negócios. Graças, talvez, à Revolução Francesa é que a liberdade começou a ser possível - liberdade de amar inclusive!

Mas pq esse amor dura tão pouco? Justamente por sua necessidade de entrega absoluta, ele precisa obrigatoriamente que os envolvidos estejam plenamente abertos à essa possibilidade. Durante a existência do amor, naqueles momentos em que ele existe, uma pessoa só deve existir para a outra; a razão de existência de um é a felicidade do outro. Pode parecer exagero, mas é exatamente isso: um exagero.

No dia-a-dia isso é impossível. Interagimos com centenas de pessoas a cada dia. Resolvemos problemas, debatemos soluções, nos frustramos com expectativas, cansamos nossos corpos com qualquer atividade. Não falo somente da vida estressante e culturalmente viciante (falo por mim, pelo menos) das grandes metrópoles, mas qualquer pessoa realiza trabalho e se cansa, por exemplo. Quando isso acontece (e isso sempre acontece), nosso foco é perdido, e o amor não dura.

Nesse momento já viramos a esquina, ou já é segunda-feira e já levantamos acampamento, ou o cara já está no bar contando que descabaçou uma fulaninha numa festa (acho que vou falar mais dessa metáfora)...

Para a relação se manter quando o amor (amor maior, lembrem-se) acaba, são necessários reparos para balancear: companheirismo, compaixão, compreensão... Esses mecanismos fazem o amor durar, apesar da intensidade diminuir. Mas o amor, por si só, o amor paixão, o amor entrega, ah, esse não dura. Esse deve ser apreciado e celebrado quando acontece. Sinta-se feliz, e esteja sempre aberto à possibilidade de amar loucamente alguém somente por um olhar que nunca mais irá se repetir.

Pq você acha que os contos de fada acabam sempre quando esse amor começa? Imagine a Cinderela 2 anos após seu casamento...

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