20 outubro 2008

A culpa é mesmo do Exército

Ah, como não poderia deixar de ser, apareceu alguém que não leu o que eu escrevi, mas comentou como se eu tivesse escrito. É sobre o texto A culpa é do Exército. Vamos recapitular: eu afirmei que a culpa não era da INSTITUIÇÃO Exército. Eu afirmei que os soldados que entregaram os jovens não poderiam ser culpados de assassinar os jovens pq simplesmente não foram eles que fizeram isso, e sim os bandidos "donos" do morro. Eu afirmei que quando os bandidos matam, ninguém liga, como se fosse o natural, o normal. Vejam o comentário de alguém anônimo:

Peraí: se alguém joga uma pessoa na jaula de um leão e esse leão "por um acaso imprevisível da natureza (quem diria!?)" mata o dito cujo, a culpa é do leão?! Vc acha mesmo que esse pessoal de facção é um ser humano que nem vc? Vc acha que quem entregava "subversivo" à Gestapo não tinha culpa por eles acabarem morrendo de fome, frio ou câmara de gás? Vc acha que os soldados entregaram os rapazes aos outros bandidos porque? Para eles fazerem um piquenique? Para uma festa de reconciliação? Então quem paga um sicário não tem culpa pela morte de quem ele mandou matar? Não existe autor intelectual de crime... Vc vai acabar revolucionando o direito penal

Muito bem, vou responder:
1 - eu não falei de leões nem de outros animais irracionais. Se um animal mata uma pessoa, a culpa não é do animal, afinal o animal não sabe o que está fazendo. Já os bandidos sabem muito bem o que fazem.

2 - Definitivamente eu acho que qualquer "pessoal" são, sim, seres humanos. Se não fossem, seria mais simples: era só exterminá-los, como fazemos com ratos ou baratas. Ai, ai, depois eu sou sempre o radinal, o reacionário.

3 - Quem entregava os subversivos à Gestapo tinha culpa de...entregarem os subversivos à Gestapo. Você acha que o Getúlio Vargas é um assassino? Por mais que eu não goste dele, não acho que ele tenha sido o culpado pela morte de Olga Benário. O culpado pela morte de quem morria pelas mãos da Gestapo era a própria.

4 - Eu não acho nada. Eu acho que eles (os soldados, não o Exército) são, sim, culpados por não terem cumprido sua função constitucional e, sobretudo, por manterem contatos com bandidos. Mas foram eles que mataram? Não. O que eles fizeram estava de acordo com as regras da instituição? Não. Então a culpa da morte não é deles, e sim dos bandidos. Muito menos culpa tem o Exército.

5 - Autor intelectual existe sim. Mas os soldados não tinham poder sobre os bandidos. Em outras palavras, eles não mandavam nos bandidos, os bandidos não estavam a mando dos soldados, portanto não cabe o argumento de autor intelectual. Mas eles têm uma culpa sim, como eu já disse. Já a instituição Exército não.

6 - Não, senhor anônimo, não vou revolucionar o direito penal. Pelo contrário, estou é sendo conservador, estou apenas lendo o que está escrito na lei. Diferente de você, que leu o que NÃO estava escrito no meu texto. Aliás, você sequer entendeu o ocorrido, já que você fez comparações de leões (você sim estaria revolucionando o direito penal, considerando que os bandidos são como leões, cuja natureza é matar, portanto devemos achar isso normal), de mandantes etc. E o único objetivo do meu texto foi dizer que a Instituição Exército não teve a menor culpa nisso. Nem direta, nem indireta...

Mas esperar o quê? Veja nosso presidente...

16 outubro 2008

Pesquisa

Pesquisa - Os brasileiros e a corrupção
http://noticias.uol.com.br/especiais/corrupcao/enquetes/ult6789u2.jhtm

Esse blog deveria se chamar "Ai, ai, que piada". Eu falo pouco sobre deus e afins, não é mesmo? Mas é isso. Sobre deus não tem muito o que falar, afinal o conceito de deus não mudou muito nos últimos milhares de anos. Já o Brasil continua sendo um país engraçadíssimo, produzindo objetos de estudo para antropólogos o tempo todo... Fazer o que...

Vejam só:
83% dos entrevistados de São Paulo acham que interesse público é algo de responsabilidade de todos
74% dos entrevistados da Paraíba acham que interesse público é algo de responsabilidade do Estado.

Não curiosamente, qual é mesmo o estado mais rico, mais avançado, mais bonitão e elegante? Até aqui, vá lá, não chega a ser uma contradição. O engraçado mesmo é isso:
Pensando nos últimos cinco anos, essa prática (a corrupção) no Brasil:
Aumentou muito - 54%

Próxima questão:
Qual das frases é mais parecida com sua opinião?
O que aumentou não foi a corrupção, mais a apuração dos casos escondidos - 75%

Vamos supor que TODOS os que não votaram naquela alternativa da primeira questão achem que a corrupção não aumentou. São 46%. Ou seja, num país lógico, a segunda questão não poderia ter, para aquela alternativa apresentada, mais do que 46%. Mas estamos no Brasil, e por aqui pelo menos 29% dos entrevistados acham que a corrupção aumentou muito AO MESMO TEMPO que acham que a corrupção não aumentou, mas os casos escondidos estão aparecendo. Lamentável...

Ps.: esse relatório tem uma coisinha interessante. Pq, na questão "Em sua opinião esses órgãos, quando ajudam a combater atos corruptos, têm agido somente dentro da lei ou às vezes agem fora da lei?", a alternativa "Às vezes age fora da lei" aparece em verde para Polícia Federal e para Legislativo, mas amarelo para Judiciário, e a alternativa "Somente dentro da lei" aparece em amarelo para Polícia Federal e Legislativo, mas verde para Judiciário? Fica, no mínimo, confuso... Portanto retrata bem o Brasil.

Update
Mas também, vejam que beleza a coerência de nosso presidente. Quando o governo equatoriano fez a lambança ilegal suspendendo direitos constitucionais (do próprio país!) aos funcionários da Odebrecht, o que o sábio de Garanhus falou?
- No Equador, tem eleições no (próximo) domingo. Vamos deixar um pouco a bola passar, para resolver esse problema.

Já sobre a crise financeira e o bloqueio da Câmara dos Representantes ao pacote de 700 bilhões de dólares:

- Está na hora do Congresso americano e do governo americano assumirem a responsabilidade que lhes cabe nessa história, ou seja, não permitir que a disputa político eleitoral que vai se dar em novembro prejudique a discussão do plano econômico.

Reparem que ele atribuiu o problema equatoriano a uma sanha eleitoral do companheiro de Foro de São Paulo, algo como: "deixa ele mostrar pro povo dele que empresa estrangeira é malvada e ele vai ter pulso firme, usando uma empresa brasileira para ganhar o referendo constitucional". E tudo muito normal. Mas só se for companheiro né, pois, segundo o barbudão, os EUA precisam fazer exatamente o inverso do que o Equador fez, ou seja, tomar decisões sem que o pleito próximo interfira. Queria ver os EUA fazendo algo do tipo com uma empresa brasileira. Mas, claro, Lula conta com o fato de que as democracias que ele demoniza SEGUEM as próprias regras, assim ele pode continuar a bravataria estúpida pro zé povinho bater palminha... O mesmo que fazem os presidentes da Bolívia, do Equador, do Paraguai, com a diferença é que eles efetivamente tomam atitudes contra as empresas brasileiras, pois sabem que o nosso governo é simpático ao pobrismo e só levanta a voz quando algum país rico PROPÕE algum acordo que TRARÁ vantagens também ao Brasil e que IRÁ ser honrado. Quando é país pobre que cospe na cara do Brasil, aí tudo bem, tadinhos... E Lula ainda quer ser líder na ONU...

Lula dizia que FHC deveria ser processado pelo crime de lesa-pátria. Mas, vamos pensar, vai gente... Quem é mesmo que está lesando nosso país?

26 setembro 2008

Independente

Engraçado esse povo preocupado com a, humm, "comercialização" - é isso? Acho que é isso, não é? - da cultura. Como se filme bom fosse filme que ninguém vê. "Ah, virou sucesso, todo mundo viu, então não presta". Tá, todo mundo já falou desse assunto, mas eu também quero falar ué!

Conheço um monte de gente que gostava de Metallica quando ninguém gostava de Metallica. Quando todo mundo começou a gostar, essas pessoas deixaram de gostar, pq o som ficou "comercial". A mesma coisa. O que faz o som ser comercial é o número de pessoas que gostam desse som. A cada disco novo do Metallica, já faz parte de toda aquela publicidade (aquela coisa comercial, sabe?) falar que o disco é uma volta à origem (o que não deixa de ser verdade, pq é tudo a mesma coisa). Ou seja, fica claro que até o cara que realmente só gosta das coisas que todo mundo gosta quer uma coisa que tenha o selinho "isto não é comercial". O mais legal é que é a própria indústria que coloca esse selo. Idiotas.

Coisa desse pessoalzinho alternativo, que faz faculdade pública e passeata pela paz. Uma coisa bem genérica. Paz. Claro, quem seria o idiota contra a paz, não é mesmo? O engraçado é que a passeata é direcionada não aos bandidos (até faria sentido uma passeata pedindo paz para os bandidos. Seria risível, mas faria sentido), e sim à sociedade. O taxista, a dona-de-casa, o feirante, o motorista, todos esses vão ficar tocados e... bem, nada.

Bom, tudo isso foi pq eu vi mais uma manifestação desses artistas independentes - normalmente leio 'independente' como 'rejeitado pela grande mídia, mas que vai ao Faustão na primeira oportunidade e agradece por expôr artistas independentes e assim que volta ao seu lugar insignificante volta também ao velho discurso que a mídia não deixa o artista independente aparecer como se não fosse o público que decide se gostou ou não e se vai dar audiência ou não' (não tem vírgulas de propósito, e me deu preguiça colocar hífen entre as palavras, mas minha intenção era essa).

Tenho nojo desses """"gênios"""" incompreendidos sufocados pelas pressões da indústria que só dão espaço a bandinhas comerciais, sabem, aquelas que, bem, dão audiência. Imagina só, que absurdo! A indústra, that bitch, não dá espaço (= dinheiro) pra essas pessoas que ninguém quer ver, pra músicas que ninguém quer ouvir e pra livros que ninguém quer ler! Nojo e um pouco de vergonha por eles, tadinhos, com tanto a dar ao mundo, mas o mundo não dá espaço... Tadinhos... Passou, passou...

Eu comecei falando que era engraçado, mas não expliquei qual é a graça. É que eu acho muito bonito, muito idealista e charmoso quem faz arte pela arte. Normalmente é filho de algum bilionário, ou é hippie que vive de fazer aquelas coisinhas de pena, sabe?, que não tá nem aí pra confortos e modernidades. Esse segundo é o verdadeiro homo-atrasadus, aquele que simplesmente caga pra todo o esforço que todos os nossos ancestrais tiveram pra que não precisássemos ser como eles - living la vida loca, aproveitando a caça que conseguiu hoje e torcendo pra amanhã ter uma caça tão boa e, principalmente, não ser a caça de algum outro.

Percebam que esses dois "artistas" que citei (o riquinho e o cagando-e-andandinho) não tão nem aí se os outros vão lê-los, ouví-los, apreciá-los. O primeiro não liga pq, se quisesse, compraria um monte de gente pra fazer tudo isso. O segundo, justamente por não estar nem aí, pega sua flautinha e sai tocando. Simplesmente não liga. Eles nem se vêem como artistas independentes - afinal, artista de verdade é o que não tá nem aí se tá fazendo arte ou não. Ele simplesmente faz o que tem vontade. Já o tal "artista independente" reclama da falta de espaço na mídia justamente pq ele não quer ser o artista independente. Ele quer público. Ele quer ser famoso. Como não consegue, quer destruir o mercado. Portanto, ele não faz arte pela arte. E essa é a graça. Parecem (e quase sempre são) petistas...

11 julho 2008

Lei seca

De Gilberto Dimenstein, da Folha:
"Não sou moralista. Gosto de beber e, reconheço, aprecio aquela sensação de leveza que provoca uma dose a mais. Mas não apoiar essa lei é uma irresponsabilidade. Há tempos precisávamos de algo mais duro contra a matança no trânsito --e os comunicadores fazem um julgamento quando sustentam o apelido de lei seca."

Duas questões:
1 - Quem causava a matança no trânsito respeitava a lei que existia antes dessa?
2 - Se não respeitava aquela, pq respeitaria essa?

Aí algum imbecil fala: "ah, as estatísticas já estão mostrando que a lei está funcionando e as mortes estão diminuindo." É? A única variável que mudou foi a lei? Não houve um aumento incrível no número de blitze? Hm. Pois a resposta para aquelas duas questões é exatamente essa: aquele que causava a matança com a lei anterior vai respeitar essa pq HÁ FISCALIZAÇÃO. Quando o show acabar, vamos ver se tudo não vai voltar ao normal...

A lei anterior já era bem rigorosa - muito mais rigorosa que a lei norte-americana, por exemplo. Será que não faltava somente a fiscalização? É clichê, mas não custa lembrar: o problema não é a falta de leis, e sim o não cumprimento das que já existem.

29 junho 2008

Supercomentário

Eu assino a Super Interessante, e gosto muito da revista. Muitas vezes ela acaba simplificando demais certas coisas, a ponto até de deformar seu objeto de exposição (e a consequência disso é um aumento de gente que acha que sabe das coisas mas só diz bobagem em fóruns, por exemplo), mas vá lá, é raro. Na maioria das vezes, ela simplifica sem distorcer, o que é ótimo, já que ela não é uma revista voltada para cientistas, e sim para o público leigo. Só que tem uma coisa que me faz ir do riso à profunda irritação. Os comentários dos leitores.

Ok, irritação é exagero, mas às vezes acontece, especialmente quando o leitor escreve reclamando, ou criticando algo mas não sabe do que está falando, ou usa argumentos que a própria reportagem que gerou o comentário já desclassificou. Fico irritado por saber que gente assim é a regra, não a exceção. Mas passa. Já até pensei em fazer um blog pra comentar os comentários dos leitores. Talvez, depois desse exemplo que vou dar, eu até faça mesmo.

Esse é um perfeito exemplo de um comentário que me deixou levemente irritado, mas depois eu ri. Já falei muito aqui neste blog do tipo de pessoa que escreveu esse comentário. Vamos à ele:
Na reportagem sobre Indiana Jones, a Super se portou como os EUA, que dão qualquer explicação mirabolante para esconder a verdade. Impossível que em Roswell não tenha acontecido nada de estranho. E por que negar que as linhas de Nazca foram feitas por extraterrestres? Há algum problema nisso? O ser humano precisa parar de arranjar explicações mirabolantes para satisfazer suas crenças fanáticas ou seu ponto de vista racional.

É uma coleção de idiotices. Vejam só: primeiro ele afirma que os EUA inventam "qualquer explicação" mirabolante para esconder a verdade. Olha, eu até poderia concordar se os EUA inventassem qualquer explicação SIMPLES para esconder a verdade. Não uma mirabolante, já que ficaria evidente que trata-se de esconder a verdade. Ora, quem chega atrasado no trabalho pq acordou tarde fala o que? Que passou mal, que furou um pneu, ou que tinham zebras e gorilas que fugiram do zoológico tentando invadir sua (dele) casa?

Agora, questiono: QUE verdade é essa que os EUA escondem? A que o autor do comentário acha que é verdade? Só essa é a "verdadeira" verdade? O "impossível não ter acontecido nada de estranho" não deixa claro que é só uma opinião? Tipo: "impossível o São Paulo perder do Fluminense na Libertadores". Eu achava mesmo. Mas impossível pq? Qual o problema de não ter acontecido nada de estranho? Bom, levando em consideração que bilhões de pessoas passam a vida inteira sem que nada de estranho aconteça a elas, e que são pouquíssimas dezenas as que afirmam que algo estranho aconteceu, acho que a possibilidade de realmente não ter acontecido nada de estranho é beeeem maior, não?

A pergunta que segue é de uma precisão científica impressionante: "Por que negar que as linhas de Nazca foram feitas por extraterrestres?" Por que, meu deus? "Há algum problema nisso?" Eu tenho uma leve idéia do "problema": pq não há a menor evidência de que extraterrestres existam, talvez? Quer dizer, eu acho que essa mesma pessoa acharia absurdo se alguém falasse: "Quem fez as linhas de Nazca foram os unicórnios alados montados pelos sacis, que usavam sela feminina, por motivos óbvios". A minha explicação é tão aceitável quando a dele, mas por que ninguém aceita, pq, pq, meu deus? Não sei pq, mas tenho uma intuição muito forte. Ah, também tenho quase certeza que se eu dissesse pra esse senhor que deus não existe, ele acharia ridículo. Impressão, sei lá.

Mas o arremate é a melhor parte: "O ser humano precisa parar de arranjar explicações mirabolantes para satisfazer suas crenças fanáticas ou seu ponto de vista racional". Ah, sim, este momento mereçe um grande parêntese: (juro que fiquei pensando se essa frase não demonstraria a fina ironia em todo o comentário. Se o comentário foi irônico, eu bato palmas para o autor. Mas eu acho que não é). Vejam que engraçado: agora ele diz que esse negócio de explicação mirabolante é coisa do ser humano em geral, não só dos EUA

Agora vamos à análise: o governo dos EUA diz que um balão meteorológico caiu numa área cheia de caipiras. Anos depois, o próprio governo dos EUA admite que não foi um balão. Era uma aeronave em testes e que, sendo homologada, seria utilizada para espionar os russos. A mentira do balão foi inventada pq, por motivo óbvio, o público não poderia ficar sabendo do teste daquela arma. Uma explicação simples, totalmente lógica, contundente, presa aos fatos e à época. Curiosamente, segundo o comentarista, esta é uma "explicação mirabolante apenas para satisfazer crentes fanáticos ou pontos de vista racionais" (e eu concordo com a parte final, pois devemos, de fato, buscar explicações que satisfaçam pontos de vista racionais, mas vejam que a explicação não tem nada de mirabolante).

Agora, se esta que eu mencionei era a explicação mirabolante, preparem-se para a VERDADE: um disco voador caiu, militares levaram os destroços e um sobrevivente para uma base ultra-secreta, fizeram autópsias nos ets e até compraram caixões com tamanhos pequenos na funerária da cidade, que serviriam para enterrar os corpos dos ets, que eram pequenos. Ora, o que há de mirabolante nisso? Há falta de lógica em algum ponto? Claaaaro que não. Imaginem os militares, num projeto ultra-secreto, fazendo funeral de et. Os coitados não poderiam ser incinerados. Eles precisavam de um enterro digno, certo?

Honestamente, vá (me sinto idiota perguntando isso): quem é "crente" aqui? Quem acredita numa explicação racional, factual e lógica, ou esses teóricos de conspirações com explicações sem a menor base lógica, sem a menor evidência, e que vêem como prova justamente a falta de provas?

19 junho 2008

A culpa é do Exército

Ai, ai, mas esse Brasilzão véio de guerra surpreende mesmo, hein! Vamos lá: 3 morreram pq uns soldados os entregaram a uns bandidos. Quem matou? Os bandidos. O que os soldados fizeram foi certo? Claro que não. O princípio, aliás, já é errado: soldados terem contato com criminosos. Claro que eles têm que ser presos. Mas não por homicídio, por um motivo simples e objetivo: não foram eles quem mataram os três. Foram os bandidos do morro.

De novo: o que eles fizeram foi certo? NÃO. Mas não posso deixar de me surpreender ao ver toda essa comoção nacional contra ... o Exército! A Instituição! NINGUÉM ficou indignado com os bandidos! Aliás, isso é tão normal que a gente lê por aí que tal facção é DONA de um morro com a maior naturalidade. Como se fosse normal que bandidos mais armados que o Exército dêem ou neguem acesso à este. Como se fosse normal a idéia de que bandidos matando, tudo bem, desde que eles sozinhos vão em busca das vítimas.

Quantos corpos mesmo foram encontrados em cemitérios clandestinos quando da busca do corpo do Tim Lopes? E todo mundo só ficou indignado pela morte dele. E todas as dezenas de mortos antes e depois dele? Agora todo mundo está indignado com a presença do Exército no morro, e não com o domínio dos bandidos? Agora a justiça manda o Exército sair do morro? Essa é boa. Pq deveriam sair? Qual é a justificativa? Sua presença está incomodando os bandidos, que ficarão mais sanguinários, é isso? É tipo uma política de redução de danos? É melhor deixar os bandidos em paz, assim eles só matam quando "for preciso"?

Que piada...

18 junho 2008

Entropia no cérebro de um idiota

Como vocês sabem, normalmente eu entro em discussões com crentes. Como eu já falei diversas vezes neste blog, o tipinho de crente mais irritante é aquele que não sabe fazer 3 frases sem se contradizer, mas vomita termos científicos para explicar a existência de deus. Não preciso nem dizer que eles não explicam é nada, e, quando parecem que explicaram, é pq distorceram toda a ciência para que a existência de deus caiba nos conceitos científicos. Pura enganação.

Esses dias eu participei de uma pequena discussão com um idiota que postou um texto falando sobre a possibilidade de algo viajar mais rápido que a velocidade da luz. Só que o texto continha uma exemplos do que, para o escritor, seriam provas disso que eram ridículos, totalmente mentirosos, inclusive contradizendo o que ele mesmo queria provar (ele dizia que o laser poderia ser mais veloz que a luz, só que a besta é tão burra que não sabe que laser É luz).

Pois bem, no decorrer da discussão, o postador ignorante falou sobre uma coisa que eu já ouvi muitas outras vezes na boca de crente: entropia. Não sabe o que é? Vai na Wikipédia, no Google, se vira. Pois bem, a topeira dizia que a vida não poderia surgir no universo justamente pq a entropia seria uma barreira. Muito bem, a besta quadrada leu em algum lugar que o universo tende ao caos, e leu sobre a segunda lei da termodinâmica que diz que a entropia de qualquer sistema fechado tende a aumentar e pronto, concluiu que seria impossível existir vida, já que esta é uma organização no sistema.

Sabem, eu acho difícil explicar pra essas bestas que, em primeiro lugar, é muito discutível definir o universo como um sistema fechado. É IDIOTICE definir qualquer coisa dentro do universo como um sistema fechado. Eu tbm acho muito difícil explicar pra essas antas que, ainda que o universo fosse um sistema fechado, a segunda lei mencionada permite perfeitamente que existam pontos dentro do sistema em que a entropia não aumenta desde que, para balancear, outros pontos tenham seus níveis entrópicos aumentados mais do que o esperado. Tudo isso é muito difícil de explicar pq crente não vê o mundo como um monte de interações. Pra ele é tudo muito preto no branco: "A lei disse que a entropia do sistema tem que aumentar; se a vida é diminuição, significa que a vida não poderia existir, pronto, tá explicado deus".

Por achar difícil ficar explicando essas coisas mais, digamos, fora do alcance intelectual dos crentes, muitas vezes eu falo rapidinho sobre o assunto, como fiz no parágrafo acima, e pronto, nem perco muito meu tempo. Eu já sei que eles não vão entender mesmo...

Pois bem, tudo isso foi pra falar que eu tava lendo o
Dr. Plausível e me deparei com uma coisa que fez eu me sentir um idiota por nunca ter pensado nisso. Simplifica tanto as explicações a um crente acerca da entropia. Foi uma coisa simples que ele falou: "O q quer q tenha originado a vida na Terra obedeceu às leis da física e continua obedecendo". Claro, isso é natural. Mas atentem para o "CONTINUA obedecendo". Fantástico! Ô seus crentes idiotas metidos a cientistas: se a segunda lei da termodinâmica ERA uma barreira para o início da vida, forçoso seria que ela AINDA FOSSE. Ou seja, forçoso seria que ela estivesse errada. Só que o resultado disso é uma coisa bizarra (logicamente falando, claro, o que significa que um crente vai achar perfeitamente lógico): se a lei (a lei que o crente entendeu) estiver certa, significa que não poderia existir vida no universo sem a ajuda de deus, mudando as regras do jogo para que níveis de entropia diminuam pra gente existir. Só que se ele mudou as regras do jogo, bem, OBVIAMENTE significa que a lei não serve, não funciona mais. Ou seja, vejam que engraçado: se a lei estiver certa, ela estará errada.

Ok, acho que fica mais simples esse joguinho lógico do que explicar termodinâmica. Não que eu ache que o crente vá entender isso. Eu sei que eles não entendem nada de lógica. Mas eu fiquei feliz por ter tido esse estalo com a explicação simplificada. E cada vez eu entendo menos os crentes. Vejam só esses pseudo-cientistas: para explicar a vida, eles dizem que o início não poderia ter ocorrido naturalmente pois uma lei física impediria, portanto deus manipulou para que a vida pudesse contrariar essa lei (e, portanto, continuaria contrariando). Ou seja, eles acreditam que a lei está errada, mas usam-na como se estivesse certa na hora de (pseudo)argumentar, dizendo que a outra teoria está errada e a prova é essa lei que, segundo eles mesmos, está errada. Que enrosco! Deve ser frustrante viver assim...

05 junho 2008

Onisciência e livre-arbítrio

O deus judaico-cristão é mesmo um deus engraçado. Tem características que são mutuamente exclusivas, e bilhões de pessoas não vêem o menor problema nisso! É como se eu me descrevesse dizendo que eu tenho 1,80m de altura e também tivesse 1,50m de altura. Não tem como eu ter essas duas alturas. Ou eu tenho uma, ou eu tenho outra. (Na verdade, eu ia falar que é como se eu dissesse que sou alto e também sou baixo, mas tenho certeza que ia aparecer um mané pra falar que isso dependeria do referencial, blablabla, então pronto, resolvi falar logo em valores).

Pois bem, acho que a maior aberração é a da onisciência. Sim, pq veja, a respeito da onipotência (que é uma falha de lógica por si só), ninguém nem pensa muito a respeito. Mas qualquer criança *sabe* que deus sabe tudo. E a onisciência não é uma falha lógica em si, como a onipotência. Ela é até possível. O problema é acreditar, ao mesmo tempo em que acreditar que deus é onisciente, que temos livre arbítrio (ou seja, que não existe um destino traçado e nós é que escolhemos o nosso caminho). Vejam o que vai abaixo:
"O fato de Deus possuir onisciência, não significa que nosso destino esteja traçado"

Eu tenho dó. O coitado do crente acha que o deus dele é tão bom que dá liberdade pra todo mundo escolher entre o bem e o mal (que, obviamente, são coisas absolutas), ao mesmo tempo em que ele é onisciente! Bom, eu respondi a esse crente, e a resposta vai abaixo, mastigadinha. Se eu conseguir fazer UM crente pensar a respeito e ver que não faz sentido acreditar nisso, já terá valido a pena! :-)

Ok, eu poderia logo dizer que você está partindo de um dogma, de uma premissa com pretensão absoluta (deus possui onisciência), e isso não tem base lógica. Mas aí seria muito fácil. Vamos assumir que sim, ele existe e possui onisciência.

O que significa ser onisciente?
Saber tudo.

Tudo, incluindo presente, passado e futuro?
Sim.

Incluindo o que VAI acontecer e o que NÃO vai acontecer?
Sim.

Hm.

Vamos pegar um exemplo rápido para provar ou contra-provar que nosso destino está traçado, sendo deus onisciente: eu tenho dois botões na minha frente para apertar apenas um deles. A ou B.

Deus sabe qual eu VOU escolher?
Sim.

Ele sabe qual eu NÃO vou escolher?
Sim.

Ele pode estar errado?
Não. (lembrando que estou assumindo seu deus onisciente e infalível, hein! Um deus onisciente, mas que pode estar errado não é onisciente, ora bolas!)

Então, antes mesmo dos botões existirem, ele sabia que eu ia escolher apertar, por exemplo, o A.

Se ele SABE que eu VOU escolher o A, e ele NÃO está errado, eu posso escolher o B?
Não.

Eu tinha REALMENTE escolha?
Não.

Vamos a um exemplo mais, digamos, cruel?

Eu tenho uma arma na minha mão, e um inimigo na minha frente. Eu posso escolher entre matar ou não matar. Posso mesmo? Vamos ver:

Deus sabe o presente, passado e futuro?
Sim.

Deus pode estar errado?
Não.

Portanto, antes mesmo de eu existir, ele já sabia que eu ia estar com uma arma na mão, com meu inimigo à frente?
Sim.

Deus já sabe o que eu vou escolher?
Se ele sabe TUDO, incluindo presente, passado e futuro, incluindo o que eu VOU fazer e o que eu NÃO vou fazer, sim.

Se ele já sabe o que eu vou escolher, e ele não está errado, eu posso fazer diferente do que está na "mente" dele?
Não.

Portanto, se eu "escolher" matar, deus já sabia?
Sim.

Quando deus me fez, ele já sabia que eu iria matar?
Sim.

E mesmo assim ele fez.

Portanto, se deus já sabe de nossas "escolhas" antes mesmos de nossa existência, e ele nunca estará errado, é claro e lógico que não temos como fugir daquilo que ele já sabe que iremos escolher. Portanto, temos sim um destino traçado.

Agora imaginem deus vendo um jogo de futebol, o Brasil vencendo o jogo (pq deus é brasileiro né), e ele levanta uma plaquinha "Galvão, eu já sabia". Se ele é onisciente, ele já sabia mesmo, antes mesmo do Galvão existir!

29 maio 2008

Célula tronco (?)

Bom, eu já escrevi tudo isso aqui sobre o aborto. Mas agora, com todo esse papo sobre as pesquisas com células tronco embrionárias e tal, preciso relembrar uma coisa aos que acham que um embrião É um ser humano, que os direitos dos seres humanos devem ser extendidos às células humanas, etc:

Pois bem, o casal vai a uma clínica para fazer um tratamento para ter filhos. A clínica recolherá espermatozóides e óvulos, e, em laboratório, dar-se-á a concepção de vários embriões. Alguns deles serão plantados no útero da mulher, e outros não. Os que não forem serão:
1 - jogados fora
2 - utilizados em pesquisas

Ok, assumindo que o embrião é um ser humano e tem o direito à vida, como querem os padres e afins, utilizá-lo em pesquisa é errado, é o mesmo que utilizar seres humanos como cobaias. Só que jogá-los fora não fica muito atrás. Seria o mesmo que jogar bebês no lixo. Qual a solução, então, para esses embriões que não são utilizados? Obrigar o casal a ter todos aqueles "filhos"? Ou, ainda, proibir a fertilização in vitro (assim não haverá a 'criação' de 'seres humanos descartáveis')?

08 maio 2008

Coitadismo

Subscrevo VEEMENTEMENTE as opiniões de Permafrost e Pracimademoá, feitas nos comentários deste post.

02 maio 2008

A estupidez de uma análise

1 - Sabem, normalmente eu não comento coisas que leio em outros blogs, afinal, é difícil eu sentar pra escrever sobre os meus debates, imaginem então escrever sobre outros textos. Nem gosto muito, pra falar a verdade. Mas às vezes a gente vê uma coisa MUITO boa, ou uma coisa MUITO ruim, e aí chama a atenção.

2 - Eu não pretendo falar sobre o caso Isabella, mas talvez eu acabe falando em um outro texto.

3 - Eu não pretendo falar sobre o caso do padre voador. Ponto.

4 - Acho que eu já devo ter falado aqui sobre uma das coisas mais irritantes na esquerda, que é igualar desiguais, para que o pior pareça melhor e o melhor pareça pior. Acontece muito. Aconteceu no caso do mensalão, quando o PT passou de auto-declarado "detentor da moralidade" a "somos todos iguais", fazendo com que todo mundo simplesmente desse as costas pra todas as provas; aconteceu com o caso dos cartões corporativos, quando o PT, ao invés de provar que é inocente, quis trazer também os dados do governo FHC para provar que não a inocência, mas sim a suposta igualdade (mas as contas do Lula, isso eles não abrem jamais!).

Pois bem, com essas 4 premissas, leiam
isso. É simplesmente a coisa MAIS IDIOTA que eu li nos últimos anos! Olhem, eu não pretendo falar sobre o caso da menina simplesmente pq tenho certeza que a polícia, e depois a Justiça têm muito mais competência pra isso, e a informação que a imprensa veicula nunca é completa, isso sem falar em opiniões que se travestem em fatos (vide Datena e cia.). Não pretendo falar sobre o padre pq ele é um imbecil. Acho que a Igreja deveria excomungá-lo, pois ele se suicidou. Acidente é quando você planeja tudo certinho, e algo que está fora de seu controle dá errado. Quando você "mete as caras" pra fazer algo perigoso sem tomar nenhuma precaução, aí não é acidente. Porra, o cara resolveu aprender a ler um GPS já em vôo, com a bateria do celular acabando? Porra, o cara levou 4 celulares, e deixou os 4 ligados ao mesmo tempo???

Ok, ok, e o texto linkado, o que tem? Ele simplesmente comete a imbecilidade de igualar as duas mortes, de comentá-las como se devêssemos sentir a mesma coisa sobre as duas. Pois isso é exatamente tentar igualar desiguais. Igualar o caso de uma menina assassinada com um maluco suicida é tentar banalizar o assassinato e glamourizar a idiotice.

E aquilo sobre a tal hipocrisia, como se nunca tivéssemos visto aquilo? Uma assistente social que se irrita com a abordagem ao caso é burra. Ele mesmo "matou a charada" sobre os motivos que levam o público a se interessar dessa forma a um caso como esse, ao mesmo tempo em que viram as costas para tantos outros casos parecidos: "Porque esse tipo de desgraça é raro na classe média". Pois é, JUSTAMENTE por isso que não dá pra comparar este caso com qualquer outro que tenha acontecido, como o do pai sergipano. Ora, se o caso é raro, é ÓBVIO que chama a atenção! E isso não tem nada a ver com ser pobre ou ser rico, e sim com a incidência de ocorrências. Sempre que algo é raro, chamará mais atenção.

Ah, alguém faça o favor de lembrar o rapaz que não é só a classe média que está indignada? Aliás, pelo contrário. As pessoas que vão lá na delegacia, que vão à casa da família são, na maioria, pobres. E outra, quem deu o poder a ele pra dizer que a classe média está aproveitando a chance para fingir indignação? Ah, é o cúmulo. Sim, eu abomino o comportamento de manada, mas daí a dizer que qualquer sentimento de outrem é falso, é se aproveitar, é fingimento, aí é ridículo.

E pior, a cada parágrafo, piora! Depois ele diz que morte é morte, não importa COMO essa morte ocorreu! Sério mesmo que a situação em que o padre morreu e a situação em que menina morreu são só detalhes? Talvez pq se reconhecêssemos que o problema é tão somente a morte da menina, seríamos todos idiotas, pq não, o problema NÃO É TÃO SOMENTE A MORTE, pois isso é, de fato, corriqueiro (é agora e sempre foi, não importa a época da humanidade). O problema é COMO ela aconteceu.

Ah, senhor Rafael, nós ignoramos as centenas de outros assassinatos, é? Quais centenas? Você mesmo deixou claro, bem claro que o que ocorreu é raro na classe média. Se é raro, então talvez você esteja, nesse momento, falando de outros assassinatos, e não de um ocorrido em uma família de classe média, comum, possivelmente causado pelos próprios membros da família, não? Ah, mas você não se importa com os adjetivos, certo? A morte do padre e a da menina são iguais, né? Foram, essencialmente, dois seres humanos que morreram, e a forma como isso aconteceu não importa, certo?

E aí ele basicamente começa com outra tática da esquerda, que é esconder os fatos. Ele fala do assunto SEM falar do assunto. Vejam:
"Se a morte do padre foi culpa dele, isso apenas diz que não há outros culpados". É mesmo? Pra você só diz isso? Pra mim diz muito mais. Pra mim até mostra coerência das pessoas que riem do padre ao mesmo tempo em que choram pela menina: as pessoas estão preocupadas com o CULPADO, e não com a vítima. Se o culpado é a própria pessoa, ótimo, o culpado já está "punido".

"Ninguém pensa em rir da menina porque, afinal, ela teve o azar de estar do lugar errado e na hora errada"
Azar? Ela morreu na casa dela, talvez pelas mãos de pessoas em que ela confiava. Como assim, AZAR??? Só mesmo um imbecil pra achar que isso é azar.

"Preferimos achar que por ser uma criança ela não tinha escolha nem chance, enquanto o padre, o imbecil, procurou a própria morte."
... Como? Ela teve escolha, chance??????? E o padre não foi o único responsável pela sua própria morte?????

"ou rir daqueles que nos parecem burros demais para merecer continuar vivendo"
Viram? Nós rimos do padre pq ele parecia burro demais pra continuar vivendo. Não rimos pq ele provocou sua própria morte. Essa frase é a principal nessa tática de esconder os fatos. Reparem que esta frase fala de merecimento. Como se alguém tivesse decidido que ele não merecia mais viver. É pura inversão de causa e efeito, coisa de gente ou burra, ou de má fé. Nós passamos a achá-lo burro DEPOIS dele ter se matado. Ninguém fala em merecimento, pq esse conceito simplesmente não faz sentido nesse caso. O padre tinha escolha: não fazer aquela burrice. Mesmo com essa escolha, ele tinha outras, que talvez não o levassem à morte: aprender a usar um GPS, fazer um cursinho de meteorologia, contratar algum especialista. Mas não, ele não quis. Ele teve escolha.

Isabella não teve escolha. Pra mim, faz muito sentido quem escolhe conscientemente o pior caminho e sem planejamento, confiando na sorte. Assim como faz muito sentido não rir de quem não teve escolha nem chance.

25 abril 2008

Não escolhemos nada - parte 2

Pois é, o meu amanhã demora mesmo, e daí? O importante é que eu voltei! Mas então, no último post eu havia falado da discussão que eu tive a respeito de homossexualidade, de gente que acha ser gay ou não é puramente uma escolha pessoal. Aliás, esse negócio de achar que isso é uma escolha pessoal é a base da discriminação e/ou do preconceito, já que sugere que a pessoa é gay pq quer, pq ela quer aparecer, coisas assim.

Pois bem, eu acho isso ridículo. Quer dizer, claro que existem pessoas que escolhem se reprimir, e lutam contra si, contra a própria vontade. Claro que dá pra entender. Se o cara diz que é gay, a possibilidade de ser renegado pela sua família (pelo menos no começo) é grande. Mas quando eu falei de pessoas que escolhem se reprimir, também falava de heterossexuais. Padres, por exemplo, precisam reprimir seus desejos. E isso causa transtornos. Mas enfim, já estou fugindo do assunto.

Fico imaginando: as pessoas escolhem quem irão amar? Ou mesmo por quem sentirão desejos, atração? Não estou nem falando do sexo da pessoa. Digo, eu, por exemplo, me sinto atraído por um determinado tipo de mulher. Não é qualquer mulher. Indo além, tem uma que eu amo, e eu não escolhi isso. Aconteceu. E é disso que eu estou falando: sério, tem alguém que acha que pode escolher por quem se apaixonar? Que pode escolher quem vai achar bonito ou feio? Acho que não.

Pois bem de novo, se as pessoas não podem escolher por quem vão se apaixonar, pq acham que podem escolher que vão se apaixonar por um determinado sexo? Não faz sentido! E tem mais: vamos supor que se possa, sim, escolher a sexualidade. Quer dizer que eu sou homem e gosto de mulheres por escolha? Quer dizer que todos os homens poderiam, a qualquer momento, decidir virar gay, e só não escolhem por moralidade? Acho que não, né?

Só pra concluir, faz algum sentido imaginar que, se a pessoa realmente pudesse escolher, ela escolheria o caminho mais difícil? Quer dizer, ok, existem aqueles que escolhem só pra aparecer, mas isso seria uma minoria muito, MUITO ínfima. O cara que é casado, e depois de 30 anos descobre que é gay, fez isso por escolha? Ele simplesmente decidiu um dia que não queria mais saber de mulher? E esse tipo de gente sofre muito! Pq quer? Pq escolher sofrer? Sério, não faz sentido...

Era só isso. Desculpem a demora...

07 janeiro 2008

Não escolhemos nada - parte 1

Nesses tempos de férias na faculdade, consigo voltar, ainda que bem pouco, a uma rotina antiga: discussões no orkut. Até já postei uma discussão um pouco mais acalorada com um crente (tenho minhas dúvidas até hoje se não era uma experiência daquelas que colocam um macaco ao computador pra ver como ele se sai) que jurava que existem evidências históricas da existência de Jesus . Essa foi bem longa e engraçada.

Pois bem, a constante nessas discussões são pessoas que fazem afirmações "científicas". Se a pessoa sabe do que está falando, se ela demonstra sentido no que fala, vá lá. Bom, a última discussão é, também, na comunidade de História. O negócio começou como uma discussão sobre homossexualidade na história. Eu só estava lendo as opiniões, talz, até que uma garota resolve discordar de uma coisa. Um cara havia dito que homossexualidade é genética, não se escolhe ser gay ou não, e a menina discordou. Segundo ela, vejam só:

"Origem genética ?
Qual é o gen causador da homossexualidade?
Nunca vi isso em meus estudos de genética, já
foi achado e comprovado?Sinceramente acho isso furado , pq senão teríamos outra classe de indivíduos, com alguma aberração nos cromossomas."


Ok, a pessoa se acha especialista (já que cita os seus estudos de genética, uau), mas não conhece os termos da própria área (não deve ter prestado atenção aos tais estudos). Em primeiro lugar, não existe 'gen', existe 'gene'. Em segundo lugar, não existem "classes de indivíduos" baseados em genes (afinal, exceto nos casos de gêmeos univitelinos, nenhum ser humano é geneticamente igual a outro). O que é isso? Marxismo biológico? Em terceiro lugar, não existe aberração em um gene pertencente a uma minoria. É normal isso acontecer. Como eu já mencionei, não existem dois seres humanos geneticamente idênticos. Em quarto lugar, cromossomAs é só em Portugal. A menina deve ter feito uma pesquisa rápida no Google para validar sua crença (totalmente anticientífico) e já achou que era expert. Mas não contava que o Google lhe daria resultados vindos de lá do Atlântico...

Ah, mas não contente, a garota lasca:
"Pra quem não sabe o q é cromossomas
http://medicina.med.up.pt/bcm/20042005/trabalhos/2005/Biocel_final/main/cromossomas.htm

eu não disse q os gays são aberrações , disse q a cadeia de dna terá aberrações , outro tipo de pares , inteligentes vcs.
e parem de dizer q ser gay tem q ter desculpa seja ela qual for

A pessoa escolhe e pronto
respeitem e parem de arranjar desculpas pra isso "

Veja como ela é científica! Ela cita um trabalho, justamente de Portugal, que explica o que são os cromossomos. Bom, e daí, o que isso ajuda a provar que a homossexualidade não é genética? Pois é, não ajuda em nada. Mas aí ela explica melhor o que são as tais aberrações que havia citado anteriormente: são...aberrações na cadeia de DNA. Entenderam? O que são aberrações? São aberrações na cadeia de DNA. É uma explicação recursiva! Voltamos ao problema de não conhecer os termos de sua área: o que são outros tipos de pares? Bom, essa ela ainda não respondeu, mas eu perguntei, e mal posso esperar pela resposta!

Ok, tudo isso foi pra mostrar a ignorância e a arrogância de uma pessoa. Mas o assunto de fato, que é a escolha, eu ainda nem comecei. Fica pra amanhã.

01 janeiro 2008

E se...

Bem na virada do ano, eu lá, vendo os fogos, tudo muito bonito, e o seguinte pensamento me toma de assalto:

- E se extraterrestres chegassem à Terra bem no momento de uma virada de ano, e vissem aquilo tudo, será que eles iam achar que estão sob ataque e usariam suas armas super-hiper-mega potentes contra nós?

Sim, pq seres ultra avançados precisam ser bem mais pragmáticos que nós. E, convenhamos, não deve existir nada menos pragmático do que gastar fábulas em energia, tempo, dinheiro, etc. pra celebrar um marco arbitrariamente estabelecido, né não?

Então eu acho que sim, eles iriam achar que estão sob ataque. Nada mais pragmático do que atacar algo desconhecido. E nada mais pragmático do que responder a esse ataque.