26 setembro 2008

Independente

Engraçado esse povo preocupado com a, humm, "comercialização" - é isso? Acho que é isso, não é? - da cultura. Como se filme bom fosse filme que ninguém vê. "Ah, virou sucesso, todo mundo viu, então não presta". Tá, todo mundo já falou desse assunto, mas eu também quero falar ué!

Conheço um monte de gente que gostava de Metallica quando ninguém gostava de Metallica. Quando todo mundo começou a gostar, essas pessoas deixaram de gostar, pq o som ficou "comercial". A mesma coisa. O que faz o som ser comercial é o número de pessoas que gostam desse som. A cada disco novo do Metallica, já faz parte de toda aquela publicidade (aquela coisa comercial, sabe?) falar que o disco é uma volta à origem (o que não deixa de ser verdade, pq é tudo a mesma coisa). Ou seja, fica claro que até o cara que realmente só gosta das coisas que todo mundo gosta quer uma coisa que tenha o selinho "isto não é comercial". O mais legal é que é a própria indústria que coloca esse selo. Idiotas.

Coisa desse pessoalzinho alternativo, que faz faculdade pública e passeata pela paz. Uma coisa bem genérica. Paz. Claro, quem seria o idiota contra a paz, não é mesmo? O engraçado é que a passeata é direcionada não aos bandidos (até faria sentido uma passeata pedindo paz para os bandidos. Seria risível, mas faria sentido), e sim à sociedade. O taxista, a dona-de-casa, o feirante, o motorista, todos esses vão ficar tocados e... bem, nada.

Bom, tudo isso foi pq eu vi mais uma manifestação desses artistas independentes - normalmente leio 'independente' como 'rejeitado pela grande mídia, mas que vai ao Faustão na primeira oportunidade e agradece por expôr artistas independentes e assim que volta ao seu lugar insignificante volta também ao velho discurso que a mídia não deixa o artista independente aparecer como se não fosse o público que decide se gostou ou não e se vai dar audiência ou não' (não tem vírgulas de propósito, e me deu preguiça colocar hífen entre as palavras, mas minha intenção era essa).

Tenho nojo desses """"gênios"""" incompreendidos sufocados pelas pressões da indústria que só dão espaço a bandinhas comerciais, sabem, aquelas que, bem, dão audiência. Imagina só, que absurdo! A indústra, that bitch, não dá espaço (= dinheiro) pra essas pessoas que ninguém quer ver, pra músicas que ninguém quer ouvir e pra livros que ninguém quer ler! Nojo e um pouco de vergonha por eles, tadinhos, com tanto a dar ao mundo, mas o mundo não dá espaço... Tadinhos... Passou, passou...

Eu comecei falando que era engraçado, mas não expliquei qual é a graça. É que eu acho muito bonito, muito idealista e charmoso quem faz arte pela arte. Normalmente é filho de algum bilionário, ou é hippie que vive de fazer aquelas coisinhas de pena, sabe?, que não tá nem aí pra confortos e modernidades. Esse segundo é o verdadeiro homo-atrasadus, aquele que simplesmente caga pra todo o esforço que todos os nossos ancestrais tiveram pra que não precisássemos ser como eles - living la vida loca, aproveitando a caça que conseguiu hoje e torcendo pra amanhã ter uma caça tão boa e, principalmente, não ser a caça de algum outro.

Percebam que esses dois "artistas" que citei (o riquinho e o cagando-e-andandinho) não tão nem aí se os outros vão lê-los, ouví-los, apreciá-los. O primeiro não liga pq, se quisesse, compraria um monte de gente pra fazer tudo isso. O segundo, justamente por não estar nem aí, pega sua flautinha e sai tocando. Simplesmente não liga. Eles nem se vêem como artistas independentes - afinal, artista de verdade é o que não tá nem aí se tá fazendo arte ou não. Ele simplesmente faz o que tem vontade. Já o tal "artista independente" reclama da falta de espaço na mídia justamente pq ele não quer ser o artista independente. Ele quer público. Ele quer ser famoso. Como não consegue, quer destruir o mercado. Portanto, ele não faz arte pela arte. E essa é a graça. Parecem (e quase sempre são) petistas...

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