02 maio 2008

A estupidez de uma análise

1 - Sabem, normalmente eu não comento coisas que leio em outros blogs, afinal, é difícil eu sentar pra escrever sobre os meus debates, imaginem então escrever sobre outros textos. Nem gosto muito, pra falar a verdade. Mas às vezes a gente vê uma coisa MUITO boa, ou uma coisa MUITO ruim, e aí chama a atenção.

2 - Eu não pretendo falar sobre o caso Isabella, mas talvez eu acabe falando em um outro texto.

3 - Eu não pretendo falar sobre o caso do padre voador. Ponto.

4 - Acho que eu já devo ter falado aqui sobre uma das coisas mais irritantes na esquerda, que é igualar desiguais, para que o pior pareça melhor e o melhor pareça pior. Acontece muito. Aconteceu no caso do mensalão, quando o PT passou de auto-declarado "detentor da moralidade" a "somos todos iguais", fazendo com que todo mundo simplesmente desse as costas pra todas as provas; aconteceu com o caso dos cartões corporativos, quando o PT, ao invés de provar que é inocente, quis trazer também os dados do governo FHC para provar que não a inocência, mas sim a suposta igualdade (mas as contas do Lula, isso eles não abrem jamais!).

Pois bem, com essas 4 premissas, leiam
isso. É simplesmente a coisa MAIS IDIOTA que eu li nos últimos anos! Olhem, eu não pretendo falar sobre o caso da menina simplesmente pq tenho certeza que a polícia, e depois a Justiça têm muito mais competência pra isso, e a informação que a imprensa veicula nunca é completa, isso sem falar em opiniões que se travestem em fatos (vide Datena e cia.). Não pretendo falar sobre o padre pq ele é um imbecil. Acho que a Igreja deveria excomungá-lo, pois ele se suicidou. Acidente é quando você planeja tudo certinho, e algo que está fora de seu controle dá errado. Quando você "mete as caras" pra fazer algo perigoso sem tomar nenhuma precaução, aí não é acidente. Porra, o cara resolveu aprender a ler um GPS já em vôo, com a bateria do celular acabando? Porra, o cara levou 4 celulares, e deixou os 4 ligados ao mesmo tempo???

Ok, ok, e o texto linkado, o que tem? Ele simplesmente comete a imbecilidade de igualar as duas mortes, de comentá-las como se devêssemos sentir a mesma coisa sobre as duas. Pois isso é exatamente tentar igualar desiguais. Igualar o caso de uma menina assassinada com um maluco suicida é tentar banalizar o assassinato e glamourizar a idiotice.

E aquilo sobre a tal hipocrisia, como se nunca tivéssemos visto aquilo? Uma assistente social que se irrita com a abordagem ao caso é burra. Ele mesmo "matou a charada" sobre os motivos que levam o público a se interessar dessa forma a um caso como esse, ao mesmo tempo em que viram as costas para tantos outros casos parecidos: "Porque esse tipo de desgraça é raro na classe média". Pois é, JUSTAMENTE por isso que não dá pra comparar este caso com qualquer outro que tenha acontecido, como o do pai sergipano. Ora, se o caso é raro, é ÓBVIO que chama a atenção! E isso não tem nada a ver com ser pobre ou ser rico, e sim com a incidência de ocorrências. Sempre que algo é raro, chamará mais atenção.

Ah, alguém faça o favor de lembrar o rapaz que não é só a classe média que está indignada? Aliás, pelo contrário. As pessoas que vão lá na delegacia, que vão à casa da família são, na maioria, pobres. E outra, quem deu o poder a ele pra dizer que a classe média está aproveitando a chance para fingir indignação? Ah, é o cúmulo. Sim, eu abomino o comportamento de manada, mas daí a dizer que qualquer sentimento de outrem é falso, é se aproveitar, é fingimento, aí é ridículo.

E pior, a cada parágrafo, piora! Depois ele diz que morte é morte, não importa COMO essa morte ocorreu! Sério mesmo que a situação em que o padre morreu e a situação em que menina morreu são só detalhes? Talvez pq se reconhecêssemos que o problema é tão somente a morte da menina, seríamos todos idiotas, pq não, o problema NÃO É TÃO SOMENTE A MORTE, pois isso é, de fato, corriqueiro (é agora e sempre foi, não importa a época da humanidade). O problema é COMO ela aconteceu.

Ah, senhor Rafael, nós ignoramos as centenas de outros assassinatos, é? Quais centenas? Você mesmo deixou claro, bem claro que o que ocorreu é raro na classe média. Se é raro, então talvez você esteja, nesse momento, falando de outros assassinatos, e não de um ocorrido em uma família de classe média, comum, possivelmente causado pelos próprios membros da família, não? Ah, mas você não se importa com os adjetivos, certo? A morte do padre e a da menina são iguais, né? Foram, essencialmente, dois seres humanos que morreram, e a forma como isso aconteceu não importa, certo?

E aí ele basicamente começa com outra tática da esquerda, que é esconder os fatos. Ele fala do assunto SEM falar do assunto. Vejam:
"Se a morte do padre foi culpa dele, isso apenas diz que não há outros culpados". É mesmo? Pra você só diz isso? Pra mim diz muito mais. Pra mim até mostra coerência das pessoas que riem do padre ao mesmo tempo em que choram pela menina: as pessoas estão preocupadas com o CULPADO, e não com a vítima. Se o culpado é a própria pessoa, ótimo, o culpado já está "punido".

"Ninguém pensa em rir da menina porque, afinal, ela teve o azar de estar do lugar errado e na hora errada"
Azar? Ela morreu na casa dela, talvez pelas mãos de pessoas em que ela confiava. Como assim, AZAR??? Só mesmo um imbecil pra achar que isso é azar.

"Preferimos achar que por ser uma criança ela não tinha escolha nem chance, enquanto o padre, o imbecil, procurou a própria morte."
... Como? Ela teve escolha, chance??????? E o padre não foi o único responsável pela sua própria morte?????

"ou rir daqueles que nos parecem burros demais para merecer continuar vivendo"
Viram? Nós rimos do padre pq ele parecia burro demais pra continuar vivendo. Não rimos pq ele provocou sua própria morte. Essa frase é a principal nessa tática de esconder os fatos. Reparem que esta frase fala de merecimento. Como se alguém tivesse decidido que ele não merecia mais viver. É pura inversão de causa e efeito, coisa de gente ou burra, ou de má fé. Nós passamos a achá-lo burro DEPOIS dele ter se matado. Ninguém fala em merecimento, pq esse conceito simplesmente não faz sentido nesse caso. O padre tinha escolha: não fazer aquela burrice. Mesmo com essa escolha, ele tinha outras, que talvez não o levassem à morte: aprender a usar um GPS, fazer um cursinho de meteorologia, contratar algum especialista. Mas não, ele não quis. Ele teve escolha.

Isabella não teve escolha. Pra mim, faz muito sentido quem escolhe conscientemente o pior caminho e sem planejamento, confiando na sorte. Assim como faz muito sentido não rir de quem não teve escolha nem chance.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bem analisado, André. Mas não achei o post do Rafael "de esquerda", como você disse. Está mais para "Rafael, o democrata cristão"...