09 março 2007

Aborto - Defendendo uma causa simpática (Parte 2 de 2)

(continuação do post do dia 08/03/2007)

Na verdade, isso me incomoda um pouco. Uma discussão pode ser algo estranho, e é difícil manter uma linha única de raciocínio, então eu geralmente fico incomodado, mas aceito a mudança. Então, perguntador que sou, questiono o motivo de o sexo consensual ou não ser o que define se o bebê vai viver ou não. Ouço que são coisas diferentes. Ah tá, agora sim.

Pq no sexo consensual as pessoas sabem que existe o risco de engravidar mesmo se se protegerem (menos de 1%, mas existe), então se mesmo sabendo do risco (baixíssimo) as pessoas fazem sexo, devem se responsabilizar caso aconteça algo inesperado. Na verdade, esse argumento serve mais ao debate da abstinência do que ao aborto. Mas é uma questão até engraçada, pois mesmo assim dá p/ traçar um paralelo entre as duas situações (sexo consensual e estupro): e a mulher que sai de noite em lugar perigoso, não sabe que existe o risco d'ela ser estuprada? E (usando a mesma lógica) se ela, mesmo sabendo do risco, sai pra rua, então deve se responsabilizar caso aconteça algo que não estava esperando (tecla SAP: estou RIDICULARIZANDO o argumento anterior, e não enaltecendo este. Preciso dizer que sou contrário a ambos?).

Bom, o lance é que sendo o sexo consensual, envolvendo proteção adequada, e o método falha, o que fazer? Responsabilizar duas pessoas p/ o resto da vida, sendo que elas podem não estar preparadas para o que vem pela frente? Sendo que isso pode destruir a vida de ambos, da mesma forma que uma mulher estuprada que engravida?

Vejam que num debate não dá p/ ficar só pegando as 'partes fáceis'. Vamos falar só de 'adolescentes irresponsáveis' (punição), estupro (absolvição), e pronto? E os outros casos? Acidentes, por exemplo? E no caso de pessoas paupérrimas, que mal têm condições de se manterem? E no caso dos adolescentes não serem nem conhecidos? Nem amigos, nem namorados, nada? A criança não terá pai (assim como no caso do estupro), a mãe pode rejeitá-la (assim como no caso do estupro), enfim, se analisarmos bem, são casos parecidos.

A diferença é que um gera simpatia pelo aborto, pois coloca o foco no momento do sexo forçado (coitadinha da mulher, ela sofreu, blablabla), e o outro gera antipatia, pois coloca o foco na irresponsabilidade e no prazer que o sexo gerou, portanto não há um 'coitadinho'.

Vcs vêem como a situação do debate acaba caindo no problema da empatia, que Rousseau já tinha observado sobre a caridade? Se alguém sofre, isso gera uma empatia (pode acontecer com vc), e vc se comove. Mas se ninguém sofre, pelo contrário, se todos estão tendo prazer e vc está se ferrando, vc fica é puto da vida! Pautar discussões por esses sentimentos é não sair do lugar.

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