21 fevereiro 2007

Aborto - Críticas gerais aos contrários ao ato

A questão do aborto é, primordialmente, uma questão de vida, e isso é óbvio. O que não é óbvio é de qual vida estamos tratando. Explico-me melhor: não existe nenhum grupo de defesa da vida das pobres células que são extirpadas no tratamento de câncer, ou na retirada de qualquer órgão do corpo. Ou seja, falando sobre aborto, estamos tratando da vida de um ser humano propriamente dito, e isso nunca fica claro, pois o mote da defesa da vida é somente isso: "defesa da vida", sem maiores explicações.

Todo o parágrafo acima foi praticamente inútil, pois não acrescentou muito à discussão. Entretanto, serve para explicar melhor uma coisa: quando é que devemos considerar aborto igual a assassinato? Para responder esta questão, outra surge: quando é que devemos considerar que um feto É uma pessoa?

É hipocrisia dizer, como dizem alguns grupos contrários ao aborto, que a vida humana começa quando há a fecundação. Não, me desculpem, mas não dá p/ dizer que um montinho de células é uma pessoa. Não é.

Também sou contra a argumentação das possibilidades, que ouvi falar durante minhas discussões, que diz que se há a possibilidade de surgir um ser humano, então esse montinho de células já deve ser tratado como tal. Apesar dessa argumentação me parecer bastante sóbria, acho que é impossível tratar as coisas pelas possibilidades: Ora, se for assim, então devemos abolir logo o uso das camisinhas, pois estamos impedindo que haja a possibilidade de um ser humano existir.

Vejam, o não-uso da camisinha não implica no surgimento do bebê, apenas previne que essa possibilidade aconteça. Analogamente, o aborto não implica na morte de um bebê, apenas previne que essa possibilidade aconteça, pois quando um aborto acontece, é justamente da POSSIBILIDADE. Não temos como saber se se a gravidez prosseguisse, o bebê nasceria normalmente, ou se aconteceria um aborto natural, ou se ele nasceria sem cérebro, etc.

Essa argumentação a respeito das possibilidades, na minha opinião, só pode ser realmente defendida se a pessoa também for contra o aborto sob qualquer possibilidade, inclusive estupro e risco de morte à mãe.

Ora, a defesa da vida, como esses grupos se auto-denominam, não pode ser defesa da vida sob determinadas circunstâncias. Ou defende-se a vida, ou não. Se não fica até fácil discutir: ora, você acha que o aborto não deve ser permitido pois a criança não pode deixar de ter a oportunidade de viver por causa de um erro cometido pelos pais, certo? Nesse caso, essa mesma argumentação se aplica ao estupro, por exemplo: o PAI cometeu um erro, não a criança.

Quem diz que defende a vida não pode ser hipócrita de defendê-la só quando é fácil, quando é um casal de adolescentes que 'faz o que não deveria faz' e precisa arcar com as consequências de seus atos. É preciso defendê-la sempre, mesmo nos momentos difíceis, quando o estuprador mata a família inteira da menina, a mantém em cárcere privado, obrigando-a a manter relações sexuais, etc e tal. A culpa não é do bebê.

Obs.: já falei minha opinião sobre o aborto. Sou a favor, enquanto o feto não for efetivamente um ser humano. Ou seja, basta definirem quando um feto é um ser humano e quando não é. Por isso mesmo, sou a favor de aborto em caso de estupro, desde que aconteça enquanto o montinho de células sequer tem a forma humana (ou seja, ainda não existe um ser humano, apenas uma possibilidade).

Também não acho que quem é a favor do aborto seja contrário à vida. Basicamente, a vida nunca precisou de ninguém p/ defendê-la. Não é agora que precisa. Quem é a favor do aborto está apenas em um dos lados de uma discussão ainda não definida, e acredito que o interesse dessas pessoas não seja sair matando todos os bebês por aí e acabarem com a vida no planeta. Acredito que o interesse dessas pessoas também é a defesa da vida, já que sobreviver não é viver, e todos sabemos quantas crianças existem por aí que sobrevivem, ao invés de viverem.

Continuarei falando sobre a fé cega de quem defende o aborto, gente que eu não entendo, que acha tudo muito prático e simples, ou leva tudo para a guerra dos sexos.

2 comentários:

Badoso disse...

Aborto é um tema muito chato...

Anônimo disse...

Caríssimo,
Vc é sempre polêmico na medida certa. Gosto demais de seus escritos e de suas opiniões.
Também acho relevante o questionamento sobre de que vida falamos...
Sim, penso que a mulher tem o direito de escolher se deseja ter um filho ou não, mesmo já estando grávida.
Não é o que faria, pra mim não me serve o aborto, mas respeito quem toma essa atitude e decisão.
Mesmo pq, para o homem sempre sobra menos, e pro filho sobra mais. Ou seja, se a gravidez é indesejável, quem sofre por essa falta de desejo é o filho indesejável. Horrível isso... uma criança merece isso? Penso que não...
Linda noite pra ti.
beijos!