13 maio 2007

Humildade e arrogância (Parte 1 de 2)

Humildade

Todo mundo acha que ser humilde é algo bom. Não é. Humildade é a tentativa do fraco de ser virtuoso. Ah, é politicamente incorreto falar isso, claro, pq é politicamente incorreto lembrar o fraco que ele é fraco. Somos uma nação de fracos pq são poucos os que se sobressaem, os que conseguem vencer a inércia do falso virtuosismo. Quando uma pessoa melhora? Quando percebe que há espaço para melhorar. Quando percebe que é fraca, inútil. Se a pessoa acha que é virtuosa, não moverá uma palha para mudar algo.

Ok, a conversa está um tanto abstrata, então, vamos a algumas definições. A moral é o que diz se o sujeito é bom ou mau, correto ou incorreto, honesto, vil, ganancioso. Mais: a moral é o que define exatamente o que é ser cada um desses adjetivos. Por exemplo: o orgulhoso e o ambicioso sempre foram vistos (e em partes ainda são) como maus, pq a moral religiosa que dominou o mundo era clara quando dizia que orgulho e ambição eram ações do demônio, coisas assim. Ninguém usava esses adjetivos para elogiar, somente para prejudicar. Hoje em dia, é comum dizer que alguém é ambicioso ou orgulhoso sem o viés pejorativo.

Voltando à definição, notamos também que não só o adjetivo em si muda seu viés de acordo com a moral, como esta também indica a aplicação desse adjetivo em determinada pessoa de acordo com suas atitudes. Um pedófilo hoje é mal visto, mas na Grécia Helênica era normal e saudável. Um escravocrata hoje é mal visto, mas em 1800 era normal e politicamente saudável.

Com essa definição em mente, observemos a utilização do adjetivo 'humilde': eufemismo para pobreza, ou confusão com timidez e/ou incapacidade. Ser pobre é bom? Ok, no Brasil de hoje, até é. O pobre tem muitas vantagens, além de ser um estilo de vida, como podemos ver em programas de TV que aclamam o gueto, a periferia, as favelas. Não, morar numa favela já foi coisa lamentável, ruim, triste. Hoje é alegria. Voltarei a esse assunto mais tarde. Por enquanto podemos apenas nos ater à aplicação do termo 'humildade'. Não, não é bom ser pobre, passar fome, ser miserável. Esse pobre não é humilde: é pobre.

Existe também aquele pobre coitado que mal abre a boca, que apanha de tudo que é lado, que não sofre mais por falta de espaço, e, rendido dentro de si mesmo, é incapaz de se sobressair. Também é chamado, pela maioria, de humilde. Humilde por sequer tentar se impor. Por aceitar a submissão. E é esse o ponto.

Humildade é isso: aceitar a submissão. Justamente para que o submisso mantenha-se submisso, ele próprio cria um mito de que isso é virtude. Obedecer é virtuoso. Ser pobre é virtuoso. Não à toa somos a maior nação católica do planeta. O cristianismo tem como pilar a regra de que ricos são maus, somente pobres é que entram na vida eterna. Esses são os humildes. Reparem: não importa se o cidadão seja pobre mas tenha pensamentos reprimidos que escandalizariam Lúcifer em pessoa. O que importa é PARECER humilde, não SER humilde.

Reparem que interessante: populações religiosas hoje clamam contra a ditadura das aparências, chamam os jovens a SEREM, não PARECEREM. Não viverem de posses e de poder, e sim de abnegação e pudor. Com que finalidade? PARECEREM castos e puros, quando na verdade não são. São reprimidos que se sentem mal por sentir atração física por outra pessoa.

Ok, mas e a essência da palavra 'humildade'? Muito bem, realmente a essência dessa palavra parece virtuosa. Humilde é o sujeito que NÃO se vangloria por ser melhor que os outros. Mas há uma premissa EXPLÍCITA nessa definição: o sujeito PRECISA ser melhor que os outros. Ser melhor que quem? Depende da base de comparação. Se o Bill Gates e eu estivermos juntos e ele disser que tem 50 bilhões, ele está deixando de ser humilde? Ora, mas ele não trabalhou, teve idéias, gerenciou, administrou, viveu pela empresa que hoje lhe dá essa cifra? A pessoa sentir alegria por ser recompensada pelo seu trabalho é, por si só, matar uma virtude? Não, acho que não.

Então humildade é outra coisa. Vejamos: e se o Bill está feliz, espalhando a todos que tem 50 bilhões, aí aparece o sultão de Brunei e fala que tem 100 bilhões? O sultão não está sendo humilde? Bom, ele acabou com a alegria do Bill. Mas e daí? Se a alegria do Bill é baseada nisso, então o sultão não tem culpa por estragá-la.

Acredito que humildade (no sentido essencial da palavra, não no uso que as pessoas fazem dela) seja o ato de não sentir essa alegria em um momento em que não faz sentido sentí-la. Se alguém está passando fome ao lado de Bill, ele não tem a menor obrigação de ajudar essa pessoa, e tem todo o direito de continuar sentindo-se feliz pelos seus 50 bilhões, ENTRETANTO explicitar essa alegria naquele momento é desnecessário. Mas seguindo essa idéia, o sultão também deixou de ser humilde, pois não havia necessidade de falar ao Bill que ele tem 50 bilhões a mais e acabar com sua alegria.

Humildade, portanto, resume-se a:
1 - Ser melhor que sua base de comparação.
2 - Deixar todos ao redor (que são os que vão dizer quem é virtuoso) saberem que você é melhor que sua base de comparação.
3 - Deixar que a base de comparação pense que é melhor que você.

Nota-se que ser humilde é, na verdade, enganar o coitado, fazendo com que ele ache que é melhor que você, e de uma forma que todos ao redor tenham dó do coitado que se acha melhor. Assim, você será aplaudido por não acabar com a alegria do coitado por ser melhor que ele.

Ops, mas que virtude é essa que consiste em alimentar o vício alheio?

Um comentário:

Anônimo disse...

nunca vi argumento tão sem cabimento nenhum, quem é que pode escrever e pensar numa coisa dessas.