04 abril 2007

Coerência, lógica e paixão (2 de 3?)

2 - A discussão que eu não sei sobre o que é
Essa é bem interessante. O papo era teórico, falava sobre ciência e religião, especificamente sobre gente que usa partes da ciência como apoio p/ seus dogmas. Gente que, na verdade, acredita é na ciência. Só que como a crença em um deus é muito arraigada na pessoa, ela procurará ao máximo usar a ciência p/ explicar essa crença. Como a ciência, obviamente, não fará isso, ela pega PARTE do que a ciência diz e interpreta de forma a embasar essa crença. O papo começou com alguém sugerindo algo como espiritualidade quântica, bobagem completa.

Eis que surge então uma daquelas pessoas que adora apresentar credencial (sou fulano, mestre em pentelhismo pela UFSACO, Universidade Federal de Santo Antônio da Cachoeira Oeste, doutor em ultrapentelhice cúbica com a tese 'Apelando com hadouken com os três botões' e acho o seguinte...blablabla) e começa a dissertar sobre cálculos e teorias da física quântica. Aí você diz que isso não importa, uma discussão sobre ciência e religião é filosófica, teórica, não prática. Não precisamos saber dos cálculos.

É o que faltava p/ o pentelho começar: 'com que autoridade você diz isso? Você estudou onde? Você ainda faz faculdade, que ridículo! Eu sou doutor em ultrapentelhismo, você sabe o que significa 1@#$235 + $#@23 ao quadrado? Eu sei, estou fazendo uma tese sobre isso'. Coisas assim. Nota-se que o doutor matava aula de Base das Ciências ou Filosofia, pois é de lei: a pessoa que faz isso VAI dizer que filosofia não importa. COMO não importa, raio??? Se é JUSTAMENTE a parte filosófica que importa num debate! Isso não é uma apresentação no Congresso Mundial de Físicos!

Pessoal, um conselho: não queiram mostrar que são bons pela credencial; não peçam credencial de ninguém quando você não consegue vencer os argumentos do interlocutor; enfim, não usem credencial como forma de menosprezar o argumento do seu interlocutor. Ataquem a IDÉIA dele, não ELE. Como é de graça, outro conselho: não queiram mostrar que sabem, que são bons, aprofundando-se num tema que não é o foco da discussão (ninguém quer uma aula completa de geometria se o assunto é apenas: é possível, filosoficamente, que exista um triângulo cuja soma dos ângulos internos seja maior que 180º? (respondendo: filosoficamente sim, é possível.)).

Explico então o motivo de eu não saber sobre o que é a discussão: ela começou com uma bobagem querendo misturar ciência com religião e acabou com uma pessoa que não entende nada de lógica, de argumentação, de silogismo, de coerência fazendo discursos contra 'livros de divulgação' (juro que não consegui entender o que são esses tais livros, mas ele enquadro O Universo na Casca de Noz, de Hawking nessa categoria). Claro, como ele estava sendo bombardeado por filósofos, já que a discussão era apenas filosófica, e não técnica, o debate acabou com um dos lados rindo do outro (e não foi o lado dele).

Obs.: tá, eu tinha dito que publicaria isso no domingo, mas filosoficamente, quem garante que hoje não é anteontem? Hum?? (respondendo bem resumidamente: filosoficamente, ninguém garante nada).

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