27 novembro 2007

Preconceito é o dos outros

Interessante a entrevista com o "educador" mineiro Tião Rocha, que vê o ensino convencional como um cadáver. Concordo com ele em alguns pontos. Só que ele é como o Alex Castro disse uma vez sobre a esquerda: é boa para identificar os problemas, mas uma negação na hora de propor soluções.

Primeiro que o rapaz (nem tanto, tem 59 anos) diz que a escola convencional é, veja só: branca, cristã, elitista, excludente, seletiva, conformada. Uma grande bobagem. Em primeiro lugar, esse "branca" é puro preconceito. Qualifique algo negativo como "negro" e você vai ver a reação das esquerdas militantes furiosas. Ah, mas preconceito ao contrário pode.

Em segundo lugar, esse "cristã" segue o mesmo esquema. Como todos sabem, eu acho religiões ridículas. Mas uma certamente não é melhor do que outra. Talvez tenha escapado ao educador que 92% da população brasileira é cristã, 80% católica e talvez por este pequeno detalhe a moral e os bons costumes são, adivinhem..., cristãos! Não é só a escola que é cristã. TUDO é cristão no Brasil.

Seguindo, os termos "excludente" e "seletiva" são complementares. Não dá pra ser seletivo sem ser excludente. Ser seletivo É ser excludente. E claro que a escola é assim, como o mercado de trabalho também é, como a família também é, como, enfim, qualquer coisa é assim. A humanidade é assim. E isso não é só no Brasil. Qualquer país possui critérios que selecionem os melhores. Em qualquer país, a força de trabalho é classe média, ensino médio, enfim, é a imensa maioria da população. Os melhores são, vejam só, selecionados. Os não-melhores são excluídos das "regalias" dos melhores, como fazer um mestrado no exterior pago pelo governo, por exemplo.

Não entendi pq a escola é elitista. É elitista por ser seletiva e excludente (elite significa a nata, os melhores). Se for neste sentido, então o termo é repetitivo. "Seletivo" já explica "elitista". Agora, se a intenção do educador é dizer que a escola vangloria a riqueza, bom, aí tudo bem, é um adjetivo diferente de "seletivo". Porém, qual é exatamente o problema nisso? Prefiro gente que vanglorie a riqueza e faça por merecer do que gente conformista.

O que nos leva ao último adjetivo: conformada. Esse ele explicou o que quis dizer:
"A escola não permite inovação. Ela é reprodutora da mesmice. (...) O conteúdo da escola está pronto e acabado. Os meninos que vão entrar na escola no ano que vem, independentemente de quem sejam, aprenderão as mesmas coisas, do mesmo jeito. Aprendem o que alguém determinou que tem que ser aprendido."

Concordo em partes. Poucas partes. Não há muito espaço pra mudar o que vai se aprender em matemática, português, história, geografia, etc. Como se inova a História? Como se inova a Matemática? A não ser que alguém descubra alguma fórmula nova, ou um sítio arqueológico identifique uma nova informação, não há o que mudar (a não ser para os esquerdistas, que tentam reescrever a história, certo?). O que quer dizer com isso é que eu concordo que a escola precisa mudar o foco na hora de ensinar. Ou seja, eu acho que é preciso mudar A FORMA COMO as coisas são ensinadas. Já o educador acha que é preciso mudar AS COISAS que são ensinadas.

E, para finalizar, vejamos a explicação a respeito daquele adjetivo racista "branca":
"Por exemplo, eu nunca tive aula sobre os reis do Congo, mas tinha aula sobre todos os Bourbons, reis europeus."

Entenderam? Ele nunca teve aula sobre os reis do Congo, que mudaram o rumo da História mundial! Já os Bourbons, que não tiveram importância nenhuma na História, sobre esses ele aprendeu. Sabem pq? Pq os reis do Congo eram negros e os Bourbon brancos. Claro! E ele ainda quer mudar o que se aprende...

É óbvio e claro o viés esquerdista, exatamente aquele tipo que desestimula a competição, como se ela fosse má. É esse o tipo de gente que quer reescrever a história, dizendo que Mao era adorado, etc. É por esse tipo de gente, que acha que aprender o que é um hectômetro é algo inútil, que estamos no terceiro mundo, num lugar que apenas consome tecnologia, incapaz de produzir. Afinal, para produzir tecnologia, é necessário saber o que o "hecto" do "hectômetro" significa. Já para consumir, não precisa saber nada. Ou melhor, saber sobre os reis do Congo já é mais que suficiente!

23 novembro 2007

O Refúgio do Canalha - Parte 2

Continuando...
O cúmulo da canalhice, porém, veio da escola de samba Vai Vai, e aí eu não pude me conter. Primeiro,
leiam isto, e sintam-se à vontade para procurar outras referências. Não acreditem em mim. Vejam que coisa engraçada. Uma pessoa que não aguenta o barulho demonstra as contravenções da escola de samba. Vejam que, num primeiro momento, o "dono" da escola tenta argumentar: disse que está há 77 anos no bairro, que o lugar deles é lá, enfim, faz todo um showzinho emocional-nostálgico. Obviamente, o argumento é pífio, já demonstrado pelo autor daquele post.

Comprovado que a escola desrespeita os moradores com um volume acima do permitido por lei, e desarmado do argumento da antiguidade, o que faz o acusado? Apela para seu último refúgio: contra-acusa o seu acusador, para tentar desmerecê-lo, já que é incapaz de desmerecer seus argumentos. Talvez o cidadão acusador seja um bom cidadão, paga seus impostos, etc, e portanto o acusado não tem como desmerecer o sujeito de outra forma, ou talvez o acusado seja preguiçoso para verificar o passado do acusador e desmerecê-lo de uma forma mais "honesta". Tanto faz, o que importa é que o acusador passou a ser acusado de racismo!

Reparem que o tal da Vai Vai nem tenta argumentar. Com a simplicidade de quem diz que o céu é azul, acusa uma pessoa de cometer crime de racismo! Sequer argumenta COMO e QUANDO esse "crime" foi cometido. Apenas acusa. Não tinha para onde correr, não tinha argumentos. Correu para o último refúgio! É um canalha! Será que ele responderá pela calúnia? Ou será que um negro pode chamar alguém de racista à vontade sem ser punido? Enfim, a Constituição, que diz que todos são iguais perante a lei, é ou não é a base da democracia brasileira?

O engraçado é que, voltando aos militantes e passando por esse senhor canalha da escola de samba, pessoas, na maioria das vezes acreditam de boa-fé, usadas como massa de manobra, que são cidadãos de segunda classe por causa da cor da pele. E aí entra a militância a exigir uma reparação, fazendo com que o resto, os que têm a pele de outra cor, esses sejam os cidadãos de segunda classe em coisas objetivas, como um vestibular, por exemplo.

Vários autores, dentre eles cito Ali Kamel, já demonstraram que o preconceito que existe no Brasil é contra pobres, preconceito que acontece dentro das próprias classes baixas, não contra negros.

E universidade não é lugar de se fazer "justiça social". É lugar onde a excelência acadêmica faz o país avançar. Os melhores, independentemente da cor da pele, devem fazer parte desta excelência.

21 novembro 2007

O Refúgio do Canalha - Parte 1

Segundo Samuel Johnson, o patriotismo é o último refúgio do canalha. Millôr Fernandes complementa: A pátria é o primeiro refúgio do canalha. Até concordava, talvez com alguma reprovação, até pq nem tinha parado pra pensar muito nisso. Bom, ainda não pensei, mas já descobri que definitivamente o patriotismo pode ser um refúgio dos canalhas, mas não é o último. O racismo está na moda. E às vezes é logo o primeiro!

Não, não é o, digamos, racismo ativo. É a simples acusação. Acusar o oponente de ser racista praticamente o desqualifica imediatamente, a despeito dos argumentos da discussão. Eu já havia visto tal coisa em qualquer tentativa de implantação de cotas em universidades. É assim: a universidade vai bem, tudo numa boa, negros e brancos convivendo harmoniosamente, as pessoas entram sendo capazes de passar no vestibular, independentemente da cor da pele, coisa e tal. Aí um grupo organizado e militante, normalmente vinculado a algum partido político de pseudo-esquerda (PT, PSTU, PCB, PC do B, etc), resolve lutar pelos diretos dos negros de entrar naquela universidade (como se houvesse uma universidade em que negros não entram!).

Aí, mais que misteriosamente, donde outrora havia harmonia surge a discórdia entre "raças". Misteriosamente pq nunca ninguém descobre de onde vieram pichações com frases incitando essa discórdia. De repente, parece que estamos em Berlim, 1937, e onde havia um muro limpo num dia, no outro há uma frase mandando os negros para a cozinha, essas coisas. Parece até que existe uma sucursal da KKK dentro de cada universidade, e cada célula permanece inativa até que o BEM aparece, e o MAL resolve mostrar a "cara". Aspas, pq, como eu disse, nunca descobrem os autores das pichações, que só servem mesmo para que aqueles militantes que já citei digam: "vejam só como a sociedade é racista", e por aí vai.

Claro que pode mesmo existir grupos organizados que militam contra os negros e acham que o lugar deles é na cozinha, etc. Esses grupos devem ser banidos e seus integrantes devem ser expostos ao ridículo (e, de repente, à forca, quem sabe...) em praça pública. Mas não é estranho que, enquanto o ingresso à faculdade fazia-se exclusivamente pela capacidade do indivíduo e, portanto, negros já faziam parte do corpo discente, esses tais grupos ficavam quietos? Ora, se eles são contra o ingresso de negros, e negros ingressam, eles ficavam quietos? Qual a lógica? Eles aceitam um pouco de negros, mas muitos, aí não, aí o lugar deles é na cozinha? É estranho. Mas começa a ficar claro quando sabemos o quão sujo partidos de esquerda podem jogar, não é mesmo?

Ok, continuando. Vocês devem se lembrar daquela briga entre estudantes, alguns africanos, na UnB, não se lembram? Se não se lembram, procurem no Google. A coisa era simples: estudantes que faziam muita bagunça atrapalhavam estudantes que faziam menos bagunça, e deu briga. Até aqui, nada demais, isso acontece em todo lugar. Eu mesmo estou sendo ameaçado (juntamente com meus colegas) de banimento no prédio onde minha república fica. Um dos meus colegas é negro. Se fôssemos mais de um, a coisa poderia ser diferente, como foi na UnB. A briga lá virou uma questão ideológica. Era racismo. Os africanos estavam sofrendo com o preconceito, estavam sendo agredidos por racistas, etc. Ah, nem vou falar muito disso, é ridículo demais. Apenas encerrando, adivinhem se os movimentos de afirmação, vinculados ao partidos de esquerda, não foram lá "adotar" esses "oprimidos"...

Já são dois exemplos. Vi essas duas situações (no caso das cotas, mais de uma vez, no caso das brigas, vi na UnB, e aqui pertinho, em Sto André, mas aí não houve a dimensão nacional do caso de Brasília), e fiquei na minha, não achando que valia a pena escrever sobre isso. Até então, não havia nada além da canalhice que já envolve o partidarismo (reiterando, essas militâncias são partidárias de gente que não tem lá muito caráter ou escrúpulo, como desde mensalões a crimes contra a humanidade provam aí pelo século XX até hoje).

continua...

12 novembro 2007

Tropa de Elite - Parte 3

A esquerdização das universidades - parte 2
Vamos colocar da seguinte forma: a sociedade tem duas margens. Os que efetivamente não seguem o establishment , os bandidos, os que ferem as liberdades de outros cidadãos, e os que seguem, mas desejam mudá-lo, criar uma nova ordem. Esse segundo tipo são os teóricos. E onde eles estão? Pois é, nas universidades. Os jovens são sempre contra o establishment. Os velhos já se acostumaram ao sistema, os jovens ainda têm esse ímpeto que revoluciona. Por outro lado, os velhos têm a experiência, e os jovens não querem perder tempo pensando. Isso é bom, pois, no geral, são os jovens que trazem mudanças, e a maioria das mudanças são boas.

O problema é unir esse ímpeto juvenil com a idiotice de alguns teóricos. O ideal seria a experiência dos mais velhos conter o ímpeto juvenil, e o ímpeto juvenil movimentar a estagnação dos mais velhos, o que levaria tudo a um equilíbrio positivo. Mas não, o Brasil é traumatizado, a direita é má, vamos dar ouvidos a tudo que a esquerda diz, eles é que são bonzinhos, etc, e, depois da redemocratização, quem era de direita simplesmente não tinha condições de continuar lecionando. Em 1995, quando cheguei à quinta série, todos os meus professores de geografia e história já eram de esquerda, e contavam a história deturpada, exaltando os valores da revolução soviética, colocando tudo como uma luta de classes, como se a sociedade fosse dividida em preta e branca, sem tons de cinza.

Ora, sabemos, por Gramsci, como deve ser a revolução sem violência: pela educação. Reescrevendo a história. E hoje a primeira geração verdadeiramente pós-redemocratização chega à universidade. No geral, é uma geração apática, que aguarda um super herói (resultado da esquerdização, que prometia mundos e fundos em sistemas diferentes, essas coisas). As pessoas clamam por mudança, mesmo sem saber exatamente o que deve mudar, o que está errado, qual é o caminho certo, se há um caminho certo. Lula foi eleito prometendo mudar - não dizia o que. Assim é fácil.

Essa geração, que chega à universidade, não tem oponentes. Não tem um sistema que cerceia sua liberdade de expressão. Não tem como mostrar aos filhos foto brigando com a polícia, mostrando como é revolucionário. É uma juventude, no geral, frustrada, por ter acreditado tanto em professores que pregavam o caminho para a terra prometida. Eles precisam de um oprimido! Mas não há mais opressor, o que fazer? Criar um: o pobre. O oprimido, que antes era o que queria liberdade de expressão, agora é simplesmente o pobre. O pobre pode ser bandido, mas, nesse caso, é justiça social. As leis nunca valeram para a esquerda e seus oprimidos, e continuam não valendo, como vimos no episódio do assalto de Luciano Huck.

O filme Tropa de Elite simplesmente mostrou isso: jovens que precisam de um opressor para chamar de seu, e escolhem a polícia para ser esse opressor mau. Jovens que vêem a polícia como inimigos. Quando alguém pega um fuzil, atira contra policiais, e acabam matando alguém que não tem nada a ver, a culpa recai sobre a polícia, e fazem passeatas contra a violência. Nunca contra o traficante. A maioria das vezes contra a polícia. No máximo, quando é claramente evidente que a polícia não teve nada a ver (caso de João Hélio), a culpa recai sobre...a sociedade. Nunca sobre os que cometeram o crime, pois esses são os neo-oprimidos, os coitadinhos que não tiveram outra opção a não ser pegar uma arma e vender drogas, ou roubar quem não teve outra opção a não ser trabalhar e pagar impostos (pois sua moral não permitiu roubar nem vender drogas).

Na verdade, parece que é natural do brasileiro ser condescente com tudo, aceitar tudo, como se, no fim, cada um de nós sempre tem uma culpa a carregar. Como se eu fosse obrigado a sentir culpa por ser um privilegiado pelas coisas que eu possuo, como se isso não fosse graças a uma série de fatores que somente aconteceram graças exclusivamente a mim mesmo, e outros fatores, menores, que dependem até da sorte. Quando eu era mais novo, ouvia que a diferença de colonização entre nós e os americanos é que nos destinou ao terceiro mundo. Depois vim a saber que, em 1900, tanto na questão econônica quanto na militar, Brasil e EUA estavam em paridade. O que nos fez perder, e o que os fez vencer? Talvez a ética protestante e o espírito do capitalismo, e a culpa infinita da doutrina cristã ajudem a explicar muita coisa. Talvez...

08 novembro 2007

Tropa de Elite - Parte 2

A esquerdização da Universidade - parte 1
O texto ficou longo e em alguns momentos parece tratar de dois assuntos ao mesmo tempo. Bom, é isso mesmo, ele faz um apanhado geral, por isso, por vezes, parece não ter conexões, mas tem. Infelizmente não acho que eu consiga ser mais específico, mais detalhista, mais claro que isso sem escrever um livro, ou uma tese. Mas isso é um blog! Ah, nem reli, tá do jeito que escrevi!

O fim da ditadura militar brasileira começa a dar frutos ideológicos agora. Já se vão vinte e poucos anos da redemocratização. Vamos fazer um pequeno passeio por esse tempo e analisar a moral e os bons costumes brasileiros. Falo isso por ter passado por isso. Eu nasci em 1983, tinha 6 anos quando Collor foi eleito, o primeiro presidente eleito no voto direto. Passei pelos anos 90 compreendendo o mundo primeiro como uma criança, apenas observando, e foi nos anos 90 que comecei a te idéias próprias.

Depois de adulto, pude rever os acontecimentos com outros olhos, e comparar as coisas que vivi com o que de fato aconteceu. Isso é sensacional, pois eu SEI o que aconteceu, não apenas li num livro. A minha geração PASSOU por isso sem ter idéias pré concebidas. As gerações anteriores tinham lado: eram comunistas, ou eram liberais, enfim, e a geração que se segue apenas lerá em livros que, como sabemos, valoriza mais a esquerda (e mente muito pra isso) do que os fatos propriamente ditos.

Depois da redemocratização, o Brasil viveu uma festa. É fácil ver isso assistindo às aberturas de novelas dos anos 90. Imagine uma mulher nua em horário nobre. Pois é, hoje é impensável, a Globo já leva porrada por mostrar mulheres seminuas. Se mostrasse a abertura de Pedra sobre Pedra, o programa seria obrigado a passar depois das 23h. Em 1992, era às 20h em ponto. Falo da TV por ser um retrato do que a sociedade tolera. Existia um medo da volta dos militares, do fim da liberdade de expressão.

Pois bem, a direita estava estigmatizada, com toda a razão, e a esquerda dominou a cena. Não por ser melhor do que a direita, mas simplesmente por ter sido sua maior opositora. Se a esquerda tivesse vencido (falamos de MR-8, José Dirceu, a base do PT), teríamos uma outra ditadura. Claro que a queda da União Soviética, coincidentemente no mesmo período, teve um importante efeito: transformou muitos radicais em moderados. Pois bem, onde ficaram os radicais? À margem da sociedade.

continua