25 setembro 2007

Capitalismo e Confiança - Parte 1 de 2

"É uma obviedade, mas não deixa de ser assustador verificar que todo o sistema capitalista se baseia na confiança entre seres humanos, essa gente de pouca confiança."

Li essa frase no Barnabé, é de post antigo e refere-se a uma página que nem existe mais. Discordo veementemente. Na minha opinião, a anarquia, essa sim, é inteiramente baseada na confiança entre seres humanos, essa gente de pouca confiança. Justamente por isso a anarquia será implantada no dia 32 de fevereiro.

O capitalismo não é baseado em confiança. É exatamente o oposto: baseado em DESconfiança. A base do capitalismo é um estado que concentre a força da maioria da população, para que não existam grupos que, pela força, imponham suas vontades (o capitalismo nunca será Capitalismo naqueles lugares da África que tribos se matam pelo poder).

A segunda base do capitalismo, que, inclusive, depende da primeira, é um sistema judiciário ágil e que seja confiável. Não adianta o estado ser mais forte do que qualquer outro grupo ou indivíduo se o indivíduo pode ir lá e comprar um juiz! Também não adianta nada eu firmar um contrato com vc, e, se vc descumprí-lo, eu levo 20 anos para ser ressarcido. Vejam que engraçado: esse sistema judiciário precisa COMANDAR a força do estado. Ou seja, o estado não é superior ao indivíduo do ponto de vista da justiça e do cumprimento de deveres.

Engraçado pq? Pq, vejam, o que vem primeiro? A união das pessoas para formarem grupos cada vez mais fortes (tchans: um pré-estado!), ou um complexo sistema judiciário baseado em direitos individuais e coletivos, deveres idem? Obviamente, a união dos bichinhos, né? Até peixes se unem contra ameaças externas...

Mas existe um porém: o sistema judiciário é uma abstração. Ok, o estado também é, mas e daí, se ele tbm existe de fato? O sistema judiciário é SÓ abstração. Levado do mundo das idéias ao plano, digamos, físico, ele é uma pessoa, que pode ser comprada, que pode errar, que pode ter um amigo precisando de ajuda (ou seja, não dá pra levar a JUSTIÇA ao plano físico, já que sua representação seria um homem, falho e tolo como qualquer outro homem). Mas, quando o até então macaquinho amestrado que sabe usar polegar opositor e andar ereto põe uma toga, tchaaaaans, vira um JUIZ, a representação do que há de mais belo e virtuoso. Mas, como eu já disse, ele só é essa representação pq o estado (a força) o reconhece como tal. As pessoas ACREDITAM que DÁ pra trazer a JUSTIÇA ao plano físico. Mas tudo não passa disso: crença pura.

Então, vejamos: primeiramente, existem os conglomerados de forcinhas para fazer uma forçona. Aí essa forçona é, obviamente, um grupo ou um indivíduo (nesse caso não é necessariamente abstração, já que o grupo, ou o indivíduo, pode EFETIVAMENTE ser mais forte do que o resto, o que não acontece no caso da justiça). Até aqui, temos que, antes de haver o capitalismo, passar por alguma forma de dominação autoritária/totalitária. Ah, ainda não existe estado.

Continuo amanhã.

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