29 junho 2008

Supercomentário

Eu assino a Super Interessante, e gosto muito da revista. Muitas vezes ela acaba simplificando demais certas coisas, a ponto até de deformar seu objeto de exposição (e a consequência disso é um aumento de gente que acha que sabe das coisas mas só diz bobagem em fóruns, por exemplo), mas vá lá, é raro. Na maioria das vezes, ela simplifica sem distorcer, o que é ótimo, já que ela não é uma revista voltada para cientistas, e sim para o público leigo. Só que tem uma coisa que me faz ir do riso à profunda irritação. Os comentários dos leitores.

Ok, irritação é exagero, mas às vezes acontece, especialmente quando o leitor escreve reclamando, ou criticando algo mas não sabe do que está falando, ou usa argumentos que a própria reportagem que gerou o comentário já desclassificou. Fico irritado por saber que gente assim é a regra, não a exceção. Mas passa. Já até pensei em fazer um blog pra comentar os comentários dos leitores. Talvez, depois desse exemplo que vou dar, eu até faça mesmo.

Esse é um perfeito exemplo de um comentário que me deixou levemente irritado, mas depois eu ri. Já falei muito aqui neste blog do tipo de pessoa que escreveu esse comentário. Vamos à ele:
Na reportagem sobre Indiana Jones, a Super se portou como os EUA, que dão qualquer explicação mirabolante para esconder a verdade. Impossível que em Roswell não tenha acontecido nada de estranho. E por que negar que as linhas de Nazca foram feitas por extraterrestres? Há algum problema nisso? O ser humano precisa parar de arranjar explicações mirabolantes para satisfazer suas crenças fanáticas ou seu ponto de vista racional.

É uma coleção de idiotices. Vejam só: primeiro ele afirma que os EUA inventam "qualquer explicação" mirabolante para esconder a verdade. Olha, eu até poderia concordar se os EUA inventassem qualquer explicação SIMPLES para esconder a verdade. Não uma mirabolante, já que ficaria evidente que trata-se de esconder a verdade. Ora, quem chega atrasado no trabalho pq acordou tarde fala o que? Que passou mal, que furou um pneu, ou que tinham zebras e gorilas que fugiram do zoológico tentando invadir sua (dele) casa?

Agora, questiono: QUE verdade é essa que os EUA escondem? A que o autor do comentário acha que é verdade? Só essa é a "verdadeira" verdade? O "impossível não ter acontecido nada de estranho" não deixa claro que é só uma opinião? Tipo: "impossível o São Paulo perder do Fluminense na Libertadores". Eu achava mesmo. Mas impossível pq? Qual o problema de não ter acontecido nada de estranho? Bom, levando em consideração que bilhões de pessoas passam a vida inteira sem que nada de estranho aconteça a elas, e que são pouquíssimas dezenas as que afirmam que algo estranho aconteceu, acho que a possibilidade de realmente não ter acontecido nada de estranho é beeeem maior, não?

A pergunta que segue é de uma precisão científica impressionante: "Por que negar que as linhas de Nazca foram feitas por extraterrestres?" Por que, meu deus? "Há algum problema nisso?" Eu tenho uma leve idéia do "problema": pq não há a menor evidência de que extraterrestres existam, talvez? Quer dizer, eu acho que essa mesma pessoa acharia absurdo se alguém falasse: "Quem fez as linhas de Nazca foram os unicórnios alados montados pelos sacis, que usavam sela feminina, por motivos óbvios". A minha explicação é tão aceitável quando a dele, mas por que ninguém aceita, pq, pq, meu deus? Não sei pq, mas tenho uma intuição muito forte. Ah, também tenho quase certeza que se eu dissesse pra esse senhor que deus não existe, ele acharia ridículo. Impressão, sei lá.

Mas o arremate é a melhor parte: "O ser humano precisa parar de arranjar explicações mirabolantes para satisfazer suas crenças fanáticas ou seu ponto de vista racional". Ah, sim, este momento mereçe um grande parêntese: (juro que fiquei pensando se essa frase não demonstraria a fina ironia em todo o comentário. Se o comentário foi irônico, eu bato palmas para o autor. Mas eu acho que não é). Vejam que engraçado: agora ele diz que esse negócio de explicação mirabolante é coisa do ser humano em geral, não só dos EUA

Agora vamos à análise: o governo dos EUA diz que um balão meteorológico caiu numa área cheia de caipiras. Anos depois, o próprio governo dos EUA admite que não foi um balão. Era uma aeronave em testes e que, sendo homologada, seria utilizada para espionar os russos. A mentira do balão foi inventada pq, por motivo óbvio, o público não poderia ficar sabendo do teste daquela arma. Uma explicação simples, totalmente lógica, contundente, presa aos fatos e à época. Curiosamente, segundo o comentarista, esta é uma "explicação mirabolante apenas para satisfazer crentes fanáticos ou pontos de vista racionais" (e eu concordo com a parte final, pois devemos, de fato, buscar explicações que satisfaçam pontos de vista racionais, mas vejam que a explicação não tem nada de mirabolante).

Agora, se esta que eu mencionei era a explicação mirabolante, preparem-se para a VERDADE: um disco voador caiu, militares levaram os destroços e um sobrevivente para uma base ultra-secreta, fizeram autópsias nos ets e até compraram caixões com tamanhos pequenos na funerária da cidade, que serviriam para enterrar os corpos dos ets, que eram pequenos. Ora, o que há de mirabolante nisso? Há falta de lógica em algum ponto? Claaaaro que não. Imaginem os militares, num projeto ultra-secreto, fazendo funeral de et. Os coitados não poderiam ser incinerados. Eles precisavam de um enterro digno, certo?

Honestamente, vá (me sinto idiota perguntando isso): quem é "crente" aqui? Quem acredita numa explicação racional, factual e lógica, ou esses teóricos de conspirações com explicações sem a menor base lógica, sem a menor evidência, e que vêem como prova justamente a falta de provas?

19 junho 2008

A culpa é do Exército

Ai, ai, mas esse Brasilzão véio de guerra surpreende mesmo, hein! Vamos lá: 3 morreram pq uns soldados os entregaram a uns bandidos. Quem matou? Os bandidos. O que os soldados fizeram foi certo? Claro que não. O princípio, aliás, já é errado: soldados terem contato com criminosos. Claro que eles têm que ser presos. Mas não por homicídio, por um motivo simples e objetivo: não foram eles quem mataram os três. Foram os bandidos do morro.

De novo: o que eles fizeram foi certo? NÃO. Mas não posso deixar de me surpreender ao ver toda essa comoção nacional contra ... o Exército! A Instituição! NINGUÉM ficou indignado com os bandidos! Aliás, isso é tão normal que a gente lê por aí que tal facção é DONA de um morro com a maior naturalidade. Como se fosse normal que bandidos mais armados que o Exército dêem ou neguem acesso à este. Como se fosse normal a idéia de que bandidos matando, tudo bem, desde que eles sozinhos vão em busca das vítimas.

Quantos corpos mesmo foram encontrados em cemitérios clandestinos quando da busca do corpo do Tim Lopes? E todo mundo só ficou indignado pela morte dele. E todas as dezenas de mortos antes e depois dele? Agora todo mundo está indignado com a presença do Exército no morro, e não com o domínio dos bandidos? Agora a justiça manda o Exército sair do morro? Essa é boa. Pq deveriam sair? Qual é a justificativa? Sua presença está incomodando os bandidos, que ficarão mais sanguinários, é isso? É tipo uma política de redução de danos? É melhor deixar os bandidos em paz, assim eles só matam quando "for preciso"?

Que piada...

18 junho 2008

Entropia no cérebro de um idiota

Como vocês sabem, normalmente eu entro em discussões com crentes. Como eu já falei diversas vezes neste blog, o tipinho de crente mais irritante é aquele que não sabe fazer 3 frases sem se contradizer, mas vomita termos científicos para explicar a existência de deus. Não preciso nem dizer que eles não explicam é nada, e, quando parecem que explicaram, é pq distorceram toda a ciência para que a existência de deus caiba nos conceitos científicos. Pura enganação.

Esses dias eu participei de uma pequena discussão com um idiota que postou um texto falando sobre a possibilidade de algo viajar mais rápido que a velocidade da luz. Só que o texto continha uma exemplos do que, para o escritor, seriam provas disso que eram ridículos, totalmente mentirosos, inclusive contradizendo o que ele mesmo queria provar (ele dizia que o laser poderia ser mais veloz que a luz, só que a besta é tão burra que não sabe que laser É luz).

Pois bem, no decorrer da discussão, o postador ignorante falou sobre uma coisa que eu já ouvi muitas outras vezes na boca de crente: entropia. Não sabe o que é? Vai na Wikipédia, no Google, se vira. Pois bem, a topeira dizia que a vida não poderia surgir no universo justamente pq a entropia seria uma barreira. Muito bem, a besta quadrada leu em algum lugar que o universo tende ao caos, e leu sobre a segunda lei da termodinâmica que diz que a entropia de qualquer sistema fechado tende a aumentar e pronto, concluiu que seria impossível existir vida, já que esta é uma organização no sistema.

Sabem, eu acho difícil explicar pra essas bestas que, em primeiro lugar, é muito discutível definir o universo como um sistema fechado. É IDIOTICE definir qualquer coisa dentro do universo como um sistema fechado. Eu tbm acho muito difícil explicar pra essas antas que, ainda que o universo fosse um sistema fechado, a segunda lei mencionada permite perfeitamente que existam pontos dentro do sistema em que a entropia não aumenta desde que, para balancear, outros pontos tenham seus níveis entrópicos aumentados mais do que o esperado. Tudo isso é muito difícil de explicar pq crente não vê o mundo como um monte de interações. Pra ele é tudo muito preto no branco: "A lei disse que a entropia do sistema tem que aumentar; se a vida é diminuição, significa que a vida não poderia existir, pronto, tá explicado deus".

Por achar difícil ficar explicando essas coisas mais, digamos, fora do alcance intelectual dos crentes, muitas vezes eu falo rapidinho sobre o assunto, como fiz no parágrafo acima, e pronto, nem perco muito meu tempo. Eu já sei que eles não vão entender mesmo...

Pois bem, tudo isso foi pra falar que eu tava lendo o
Dr. Plausível e me deparei com uma coisa que fez eu me sentir um idiota por nunca ter pensado nisso. Simplifica tanto as explicações a um crente acerca da entropia. Foi uma coisa simples que ele falou: "O q quer q tenha originado a vida na Terra obedeceu às leis da física e continua obedecendo". Claro, isso é natural. Mas atentem para o "CONTINUA obedecendo". Fantástico! Ô seus crentes idiotas metidos a cientistas: se a segunda lei da termodinâmica ERA uma barreira para o início da vida, forçoso seria que ela AINDA FOSSE. Ou seja, forçoso seria que ela estivesse errada. Só que o resultado disso é uma coisa bizarra (logicamente falando, claro, o que significa que um crente vai achar perfeitamente lógico): se a lei (a lei que o crente entendeu) estiver certa, significa que não poderia existir vida no universo sem a ajuda de deus, mudando as regras do jogo para que níveis de entropia diminuam pra gente existir. Só que se ele mudou as regras do jogo, bem, OBVIAMENTE significa que a lei não serve, não funciona mais. Ou seja, vejam que engraçado: se a lei estiver certa, ela estará errada.

Ok, acho que fica mais simples esse joguinho lógico do que explicar termodinâmica. Não que eu ache que o crente vá entender isso. Eu sei que eles não entendem nada de lógica. Mas eu fiquei feliz por ter tido esse estalo com a explicação simplificada. E cada vez eu entendo menos os crentes. Vejam só esses pseudo-cientistas: para explicar a vida, eles dizem que o início não poderia ter ocorrido naturalmente pois uma lei física impediria, portanto deus manipulou para que a vida pudesse contrariar essa lei (e, portanto, continuaria contrariando). Ou seja, eles acreditam que a lei está errada, mas usam-na como se estivesse certa na hora de (pseudo)argumentar, dizendo que a outra teoria está errada e a prova é essa lei que, segundo eles mesmos, está errada. Que enrosco! Deve ser frustrante viver assim...

05 junho 2008

Onisciência e livre-arbítrio

O deus judaico-cristão é mesmo um deus engraçado. Tem características que são mutuamente exclusivas, e bilhões de pessoas não vêem o menor problema nisso! É como se eu me descrevesse dizendo que eu tenho 1,80m de altura e também tivesse 1,50m de altura. Não tem como eu ter essas duas alturas. Ou eu tenho uma, ou eu tenho outra. (Na verdade, eu ia falar que é como se eu dissesse que sou alto e também sou baixo, mas tenho certeza que ia aparecer um mané pra falar que isso dependeria do referencial, blablabla, então pronto, resolvi falar logo em valores).

Pois bem, acho que a maior aberração é a da onisciência. Sim, pq veja, a respeito da onipotência (que é uma falha de lógica por si só), ninguém nem pensa muito a respeito. Mas qualquer criança *sabe* que deus sabe tudo. E a onisciência não é uma falha lógica em si, como a onipotência. Ela é até possível. O problema é acreditar, ao mesmo tempo em que acreditar que deus é onisciente, que temos livre arbítrio (ou seja, que não existe um destino traçado e nós é que escolhemos o nosso caminho). Vejam o que vai abaixo:
"O fato de Deus possuir onisciência, não significa que nosso destino esteja traçado"

Eu tenho dó. O coitado do crente acha que o deus dele é tão bom que dá liberdade pra todo mundo escolher entre o bem e o mal (que, obviamente, são coisas absolutas), ao mesmo tempo em que ele é onisciente! Bom, eu respondi a esse crente, e a resposta vai abaixo, mastigadinha. Se eu conseguir fazer UM crente pensar a respeito e ver que não faz sentido acreditar nisso, já terá valido a pena! :-)

Ok, eu poderia logo dizer que você está partindo de um dogma, de uma premissa com pretensão absoluta (deus possui onisciência), e isso não tem base lógica. Mas aí seria muito fácil. Vamos assumir que sim, ele existe e possui onisciência.

O que significa ser onisciente?
Saber tudo.

Tudo, incluindo presente, passado e futuro?
Sim.

Incluindo o que VAI acontecer e o que NÃO vai acontecer?
Sim.

Hm.

Vamos pegar um exemplo rápido para provar ou contra-provar que nosso destino está traçado, sendo deus onisciente: eu tenho dois botões na minha frente para apertar apenas um deles. A ou B.

Deus sabe qual eu VOU escolher?
Sim.

Ele sabe qual eu NÃO vou escolher?
Sim.

Ele pode estar errado?
Não. (lembrando que estou assumindo seu deus onisciente e infalível, hein! Um deus onisciente, mas que pode estar errado não é onisciente, ora bolas!)

Então, antes mesmo dos botões existirem, ele sabia que eu ia escolher apertar, por exemplo, o A.

Se ele SABE que eu VOU escolher o A, e ele NÃO está errado, eu posso escolher o B?
Não.

Eu tinha REALMENTE escolha?
Não.

Vamos a um exemplo mais, digamos, cruel?

Eu tenho uma arma na minha mão, e um inimigo na minha frente. Eu posso escolher entre matar ou não matar. Posso mesmo? Vamos ver:

Deus sabe o presente, passado e futuro?
Sim.

Deus pode estar errado?
Não.

Portanto, antes mesmo de eu existir, ele já sabia que eu ia estar com uma arma na mão, com meu inimigo à frente?
Sim.

Deus já sabe o que eu vou escolher?
Se ele sabe TUDO, incluindo presente, passado e futuro, incluindo o que eu VOU fazer e o que eu NÃO vou fazer, sim.

Se ele já sabe o que eu vou escolher, e ele não está errado, eu posso fazer diferente do que está na "mente" dele?
Não.

Portanto, se eu "escolher" matar, deus já sabia?
Sim.

Quando deus me fez, ele já sabia que eu iria matar?
Sim.

E mesmo assim ele fez.

Portanto, se deus já sabe de nossas "escolhas" antes mesmos de nossa existência, e ele nunca estará errado, é claro e lógico que não temos como fugir daquilo que ele já sabe que iremos escolher. Portanto, temos sim um destino traçado.

Agora imaginem deus vendo um jogo de futebol, o Brasil vencendo o jogo (pq deus é brasileiro né), e ele levanta uma plaquinha "Galvão, eu já sabia". Se ele é onisciente, ele já sabia mesmo, antes mesmo do Galvão existir!