30 dezembro 2006

Liberdade vs Igualdade

Dois conceitos que ninguém poderia classificar como nocivos. Entretanto, a maioria das pessoas não percebe que são excludentes. Quanto maior a liberdade, menor a igualdade e vice-versa.

Nós, antes de tudo, somos animais. Alguns de nós possuem habilidades inatas, como uma facilidade maior para aprender tal coisa, ou uma facilidade para correr, pular, etc. Alguns chamam de dom natural. Qualquer que seja o nome, é fato que pessoas são diferentes por natureza.

A igualdade, portanto, torna-se uma forma de ir contra a natureza. Mas, como seres humanos avançados, podemos ir contra a natureza. Pq não conseguimos implantar a igualdade?

Imaginemos que fulano é um brilhante corredor. É campeão de tudo que é tipo de corrida. Por outro lado, beltrano não consegue, por mais que se esforce, competir com fulano. Eles são, em essência, diferentes. Porém nós, humanos avançados, estipulamos a igualdade. Quem deverá sofrer com isso? O melhor.

O melhor pode acompanhar o ritmo do pior - é só ficar mais lento. Mas o pior não conseguiria acompanhar o ritmo do melhor. Para o conceito de igualdade funcionar, portanto, é necessário que ninguém se sobressaia. Ninguém pode ser melhor. Todos teríamos as mesmas casas, os mesmos carros, a mesma roupa. Tudo cinza e padronizado. A liberdade não existe. Não posso escolher uma cor diferente, não posso simplesmente escolher SER diferente.

Já onde existe liberdade, os melhores se sobressaem. Acabam sendo vencedores, enquanto há os medianos, que ficam (onde mais poderiam ficar?) na mediocridade. Existe uma relação entre melhores, piores e medianos: o melhores são 10%, os medianos 80%, e os piores 10%. Reparem na desigualdade: a esmagadora maioria é formada por medíocres p/ baixo. Isso pq houve liberdade, que permitiu aos melhores exercerem suas qualidades, e que trouxe a desigualdade.

Mas essa explicação foi um pouco abstrata, certo? Vamos a algo mais concreto. Muitas pessoas dizem que em países nórdicos os lixeiros ganham tanto quanto um empresário, por exemplo, e citam esse fato como se fosse uma ode à igualdade. "Vejam, eles são primeiríssimo mundo lá, ninguém passa fome, todos ganham a mesma coisa". É verdade. Infelizmente, os esquerdistas que gostam de citar tal fato não são muito bons em traçar paralelos entre fatos distintos.

Peguemos o caso da Noruega. O maior IDH do mundo. A população total é menos da metade da cidade de São Paulo. O PIB norueguês é menos de 10% do brasileiro. O Estado é forte, atuando diretamente nos negócios, e possuindo monopólio em áreas como a petrolífera. Muito bem, vamos fazer uma análise rápida: estamos falando de uma vila, comparando com o Brasil. É claro que a vida seria maravilhosa em um lugar onde recursos naturais valiosos (petróleo) abundam, e a população se conta a dedo.

Claro que, apesar do maior IDH do mundo, a Noruega também apresenta a maior taxa de suicídio do mundo. Alguns cientistas atribuem esse fato à falta de sol. O corpo gera hormônios que trazem euforia quando a pele está em contato com o sol, o que é meio raro num lugar que só tem 6 meses de luz, e mesmo assim é difícil sair de casa sem proteção contra o frio intenso. Mas enfim, belo exemplo.

O que eu quis dizer com tudo isso? Que não dá p/ falar em exemplo mundial usando uma vilazinha no interior do mundo (onde o governo regula boa parte da vida dos cidadãos, e onde a liberdade é cerceada tanto pelo Estado quanto (ou mais) pela própria natureza) como parâmetro. Vamos pensar no mesmo conceito aqui no Brasil: lixeiros ganhando o mesmo que um médico, por exemplo.

Salário x Responsabilidade
No Brasil, uma meritocracia, os salários são baseados em responsabilidades. Pq um médico ou um juiz ganham mais que um lixeiro? Pq estudaram mais? Não. Pq de suas ações depende a vida de milhares (milhões, às vezes). O que acontece se um ministro do STF não fizer seu trabalho corretamente? Caos, pânico, ranger de dentes. Se um médico não fizer seu trabalho corretamente? Pânico, morte, doença. Se um lixeiro não fizer seu trabalho corretamente? Vem outro e faz. Ok, ok, o lixo ficou um dia a mais esperando, mas ele VAI sair de lá. Já o paciente que morreu na mesa de operações do médico não vai voltar com outro médico.

Por isso, no Brasil, existem aqueles que não completaram curso superior e ganham mais do que doutores. Questão de responsabilidade. Um empresário precisa responder por sua empresa. Pagar suas dívidas, girar capital, contratar, demitir. Suas decisões têm impacto direto na vida das pessoas. Por outro lado, se a tiazinha do café esquecer do açúcar, ora, e daí?
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Vocês repararam que eu comecei falando de liberdade e igualdade e acabei falando sobre salários? Pois bem. Isso pq a "luta" entre liberdade e igualdade está presente todo o tempo em nossas vidas. No discurso, a igualdade é muito mais bonita, mas na prática a liberdade é o que conta.

Obviamente, eu defendo a liberdade. Há quem defenda a igualdade (mas infelizmente o discurso soa um pouco hipócrita, pois estes já estão com suas aposentadorias nada igualitárias garantidas. Vide Aldo Rebelo). Pretendo explorar bastante este assunto por aqui. Aliás, já adianto meu próximo assunto, que tem tudo a ver com liberdade, com escolhas: aborto. Neste mesmo canal, neste mesmo horário.
Aguardem...

28 dezembro 2006

Há 10 anos

Texto escrito em 23/01/2004. Quase 3 anos atrás. Bem melancólico. É um pouco grande p/ este blog, mas sei que vocês, bons leitores, gostarão. Bom, após o texto, tenho algumas considerações...

E estou andando pela casa em que cresci.
E, no início, não quero nada, só pegar meu violão, e ir embora p/ minha casa.
Então acho alguns cadernos empoeirados. São cadernos do meu primário. De 1990 a 1993. E então lembranças começam a tomar meu pensamento, enquanto passo os olhos pelas folhas empoeiradas, preenchidas por letra infantil, com problemas matemáticos, ou recados.

Relembro dos amigos que nunca mais vi, do primeiro álbum de figurinhas completo, que perdi na mudança de casa, das comemorações, ou feiras de ciências com explicações agora simples, mas que eram complicadíssimas naquele momento.

Valores de mensalidades expressos em milhões de cruzeiros, depois milhares de cruzeiros reais.
Até chegar no recado sobre o luto pela morte do cantor Jessé, pai do aluno David, estudante da minha sala. Na verdade, David foi meu primeiro "melhor amigo". Mas após a morte de seu pai, mudou de escola, e nunca mais tive notícia. Suspeito que tenha sido a primeira grande decepção que tive, pelo menos, que lembro.

Então me vem o pensamento sobre o quanto seria bom reunir toda uma classe de mais de 10 anos atrás. Não consigo imaginar a gama de caminhos que cada um pôde escolher p/ seguir. Lembrei também do meu primeiro amor, que também foi meu primeiro fora. Um bilhetinho pedindo a menina em namoro, e a resposta que eu teria somente no dia seguinte. E a resposta foi "não". Graças a uma amiga que não gostava de mim. Acho graça de como as mulheres começam a fazer esse tipo de coligação tão cedo. Por onde será que anda essa menina?

E me ocorre que estou com medo. Nunca notei como o tempo passa depressa. Sempre que se falava em "10 anos atrás", eu não tinha a dimensão correta desse tempo, pois não me lembrava da época. Quando tinha 18 anos, 10 anos antes eu teria 8, e não lembraria nada que acontecera naquela época. Agora não. Eu lembro das coisas que me aconteceram há 10 anos. Tudo vêm à mente com muita facilidade, desde a reforma da casa, até a vinda do Rex, o cachorro que ainda está vivo, mas infelizmente, está velho, e não dura muito mais.

Mais uma coisa que só agora vim perceber. Fazia uns 3 ou 4 anos que não via o Rex. Nunca me ocorreu que ele ficaria velho e morreria. Nas minhas lembranças não lembro de nenhum momento que pensei sobre isso, e brinquei "só mais 5 minutos" com ele. E agora não tenho tanto tempo assim, e ele não consegue mais brincar como antes. Não tem o mesmo fôlego p/ pular e correr.

E é assim que estou me vendo, sentado na escada, olhando o Rex, e o prédio que agora esconde a bela vista que tinha das montanhas, e que tapa o sol que mantinha as árvores do meu quintal vivas, chorando feito uma criança que perdeu seu brinquedo. Mais um minuto próximo do fim. O brinquedo que perdi foi o tempo.

Agora não dá mais p/ dormir com a janela do quarto aberta, p/ acordar cedinho e, sem o barulho da janela abrindo, poder observar os papagaios que comiam goiaba no meu quintal. Ou correr com um pedaço de pão, que servia como isca p/ o meu cachorro! Agora o que restou foi uma sombra, uma árvore morta, e um velho cachorro, numa casa velha, que não parece mais a casa onde crianças corriam, e festas aconteciam.

E eu continuo lembrando dos amigos do bairro. Da Carolina, Camila e Cibele, as minhas primeiras amigas, que não vejo há mais de 10 anos. Nunca mais tive coragem de tocar aquela campainha. Nem sei se elas me reconheceriam. E continuo, e lembro das brincadeiras de esconde-esconde (que eram muito emocionantes, já que minha casa possuía vários esconderijos muito bons).

Agora me levanto, e sigo até o portão, e no caminho passo pelo corredor, que me dava medo. Agora passo por ele sem nem olhar p/ trás. Passo pelo jardim, que foi estrategicamente diminuído pelo meu pai, p/ caber mais um carro na garagem. E em algum lugar desse jardim está enterrado meu outro cachorro, que morreu há quase 10 anos, numa briga com o Rex. Pois é, um dia você é forte e enfrenta qualquer coisa. O tempo passa, e o que você havia enfrentado está maior e mais forte que você, e te vence.

E olho p/ o muro que há 10 anos, eu tinha medo de subir, mas que mesmo assim, ia buscar o pipa que caiu no telhado. Entro no meu carro, e é meu subconsciente que se preocupa com a direção. O consciente está ocupado com lembranças. E pelo caminho para casa, passo pelo meu antigo colégio, que me traz mais lembranças, enquanto as lágrimas escorrem.
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Dia 17 fez 4 anos que conheci uma menina que mudou o rumo da minha vida, mas não pôde continuar seguindo comigo. Ela seguiu o caminho dela, e agora eu sigo o meu. Incrível como parece que foi ontem que a conheci, e tanta coisa mudou desde então.

E depois de alguns minutos, quando as lembranças se acalmam, eu consigo concluir que o que sou hoje, é graças à esse passado que me entristece. Desde a teimosia à facilidade de integração, que foram moldadas durante a adolescência, período que, ao que parece, está me trazendo mais confusões e dúvidas agora, do que em seu ápice.

E choro mais uma vez, escrevendo este texto, por ter lembrado de tudo novamente.
Cada livro que eu li, programa que eu assisti, brincadeira que joguei, agora me olham e cobram o resultado de terem passado pela minha vida. Tornei-me bom, ou mau? Ou simplesmente, tornei-me adulto - bem e mal juntos, compartilhando esta pessoa que, como cada ser humano, é um universo indecifrável e sem tamanho? (que clichê)

E novamente me lembro que devo seguir e conquistar cada vez mais, mas não posso esquecer de viver esse tempo, pois daqui p/ diante, em qualquer tempo da minha vida, eu sempre vou lembrar do que aconteceu 10 anos atrás. E não posso correr o risco de chorar novamente daqui a 10 anos.

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Minhas considerações:
É, a época da minha vida era bem diferente quando este texto foi escrito. Muitas baladas, bastante rebeldia, e melancolia. Foi legal! Estou bem mudado (com vários quilos a mais, inclusive).
Enfim:
1 - A casa da qual eu falo foi demolida em março deste ano que se encerra, e dois sobrados estão quase prontos naquele lugar, e cada um será vendido pelo dobro do preço da casa. Sem contar valor sentimental.
2 - O Rex morreu um pouco antes da demolição.
3 - Os papagaios, como eu comentei, já não vinham mais por causa de um prédio que foi construído no quintal. Além disso, o lugar de onde eles vinham (montanhas em SBC) virou uma favela. Basicamente, não existem mais papagaios selvagens naquela região.
4 - Com o pessoal da escola e as meninas do bairro eu me encontrei. Estão bem, e foi legal revê-los. Agora, faz mais de ano que não os vejo. Mas foi bom enquanto essa proximidade tardia durou.
5 - A menina que mudou minha vida casou, e hoje tenho muita estima por ela. Sou grato, e sempre lhe desejarei toda a felicidade do mundo.

Ê tempo...

27 dezembro 2006

Elogio ao Amor Maior

O Amor Maior, doravante entitulado apenas 'amor', dura pouco. Uma noite, um fim de semana, um minuto, um segundo. Pode acontecer enquanto duas pessoas cruzam os olhares na rua. O dia das duas estará ganho, e nunca mais elas se encontrarão. Mas sempre existirá a dúvida: e se eu tivesse perguntando o nome dela...

Pode acontecer durante todo um fim de semana, quando duas pessoas decidem sumir do mapa. Desligam seus celulares, e vão acampar no meio do mato sem avisar ninguém. Aqueles dias serão inesquecíveis... Pode acontecer numa festa, enquanto dois adolescentes somem e vão *conhecer* o andar de cima, e o saldo é uma ex-virgem.

O amor está sempre na possibilidade. Não é à toa que o amor moveu revoluções na História, e sempre foi reprimido por entidades autoritárias, como a igreja (lembrem-se que o demônio está na incerteza). Casamentos são instituições racionais, que menosprezavam o amor e visavam fortalecer os negócios. Graças, talvez, à Revolução Francesa é que a liberdade começou a ser possível - liberdade de amar inclusive!

Mas pq esse amor dura tão pouco? Justamente por sua necessidade de entrega absoluta, ele precisa obrigatoriamente que os envolvidos estejam plenamente abertos à essa possibilidade. Durante a existência do amor, naqueles momentos em que ele existe, uma pessoa só deve existir para a outra; a razão de existência de um é a felicidade do outro. Pode parecer exagero, mas é exatamente isso: um exagero.

No dia-a-dia isso é impossível. Interagimos com centenas de pessoas a cada dia. Resolvemos problemas, debatemos soluções, nos frustramos com expectativas, cansamos nossos corpos com qualquer atividade. Não falo somente da vida estressante e culturalmente viciante (falo por mim, pelo menos) das grandes metrópoles, mas qualquer pessoa realiza trabalho e se cansa, por exemplo. Quando isso acontece (e isso sempre acontece), nosso foco é perdido, e o amor não dura.

Nesse momento já viramos a esquina, ou já é segunda-feira e já levantamos acampamento, ou o cara já está no bar contando que descabaçou uma fulaninha numa festa (acho que vou falar mais dessa metáfora)...

Para a relação se manter quando o amor (amor maior, lembrem-se) acaba, são necessários reparos para balancear: companheirismo, compaixão, compreensão... Esses mecanismos fazem o amor durar, apesar da intensidade diminuir. Mas o amor, por si só, o amor paixão, o amor entrega, ah, esse não dura. Esse deve ser apreciado e celebrado quando acontece. Sinta-se feliz, e esteja sempre aberto à possibilidade de amar loucamente alguém somente por um olhar que nunca mais irá se repetir.

Pq você acha que os contos de fada acabam sempre quando esse amor começa? Imagine a Cinderela 2 anos após seu casamento...

A Ponte e a Primeira Noite

Sentada no parapeito da ponte, Rebeca observa a água correndo silenciosa e mansa. Seu vestido vermelho, leve, balança com o vento. A saia, que alcança o joelho, tremula tal qual a bandeira da embaixada onde esteve algumas horas antes.

A chuva começa a cair. Ela observa o efeito que os grossos pingos causam na água. Uma cortina grossa de água varre o rio em sua direção. Quando chegam, encontram-se com suas lágrimas. Seu vestido gruda em sua pele, seus cabelos, que antes estavam livres ao vento, agora grudam em seu rosto.

Seus dedos estão entrelaçados, e ela pensa no quadro. Imagina a temperatura da água. Pergunta-se se a queda machucaria muito. Rebeca sabe que está sendo observada. Pensa que deveria mesmo se jogar.

Um dos vultos sai das sombras e posta-se atrás da moça. O outro acende um charuto e apenas observa.

Homem
Quantas mortes?

Rebeca
Cento e cinquenta. Sem contar os nossos.

Homem
Choras por um traste que não merecia estar vivo. Tu fizeste bem em não teres te metido. Ah, quem dera ter sido uma bala de minha pistola ao invés daquele pedaço de vidro. Todos sabem que eu tinha uma bala especial, com aquele maldito nome gravado. Ele achava graça. Mas não fosse o ocorrido, seu poder acabaria, mais cedo, ou mais tarde. Ele sabia disso. E ele sabia que eu me vingaria.

Rebeca
Ninguém tinha mais opção. Não deveria mais haver ódio entre ninguém. Não foram suficientes as mortes? Não causaram comoção suficiente? Era realmente necessário que um de nós se sacrificasse?

Homem
Há quem tenha se sacrificado de verdade. Ele foi um lixo. Não foi um sacrifício. (Levanta a capa para se proteger da chuva e acende um charuto). Ele teve escolha, mas preferiu desobedecer. Não pude me vingar naquele momento. Ainda fui obrigado a vê-lo sendo condecorado, recebido como herói. Herói, humpf. A morte que teve não foi suficiente para retirar de mim a vergonha... Quem te acompanhaste até a embaixada?

Rebeca
O Delegado. Ele foi até minha casa. Roubaram o quadro. Eu sei quem foi.

Homem
Eu sabia. EU TINHA CERTEZA QUE ACONTECERIA! Eu não havia prevenido?

Rebeca
Fácil falar agora. Muitos supunham. Entretanto, a forma como aconteceu assusta. Ainda sinto aquela presença estranha. Mas talvez o quadro não importe mais. O Delegado ficou para trás na embaixada. Mais uma morte em nome da causa. Mas me vinguei. Após a explosão, eu vi o segurança que o matou queimando. (Gargalhada).

Homem
Não sejas rancorosa. (Respira e dá uma gargalhada). E então, vais saltar?

Rebeca
Vá embora e deixe-me em paz com minha dor. Vocês dois já observaram muito por hoje.

O outro vulto, que somente observava, some de vez nas sombras.

Homem
Claro que iremos. Chegou nossa hora. Também temos nosso show esta noite. Mas nunca se esqueça que sempre estaremos a um passo. Daqui da ponte poderás observar nossa performance. Lembra-te das palmas. Amanhã um novo dia nos trará o resultado desta noite. Aguarda mais instruções. Não tardarão a chegar.

O homem vira as costas e caminha para as sombras, enquanto o outro reaparece e se aproxima da ponte com um envelope nas mãos.

Segundo homem
Pega (entrega o envelope). Às vezes os mortos voltam à vida. Deverias saber disso.

O homem vai embora, e finalmente Rebeca está sozinha. Abre o envelope. Há dinheiro. E há um pingente no formato de um espadim. Ela vira, e vê a inscrição ao longo da lâmina: "Em nome dos bravos que caem sem honras, mas sempre serão honrados". O lema do grupo.

Ela derrama mais algumas lágrimas enquanto coloca o pingente ao redor do pescoço molhado. A chuva diminui. Está quase na hora. Ela levanta os olhos, e observa a explosão. Mais um símbolo cai. Tinha que ser assim? Sim...

26 dezembro 2006

Memórias póstumas

Fim de ano, nada como uma retrospectivazinha básica...
Na verdade, eu tenho tanto o que lembrar desse ano, que não tenho palavras suficientes p/ expressar tudo, então vou falar pouco. Na verdade, vou falar de pouco assunto, os mais marcantes. Depois comento algo mais.

Pois é, esse ano eu tive uma vida conjugal, efetivamente. Ok, comecei a morar sozinho ano passado, mas esse ano é que as coisas já estavam mais certinhas, mobília, essas coisas. Esse ano é que eu tbm deixei de morar sozinho, que minha 'esposa' morou comigo. Entre aspas pq era por lei, de acordo com o novo Código Civil, e não por um casamento real. Que teria ocorrido em julho, mas não aconteceu.

Morar com alguém é uma experiência e tanto... Dividir a vida é coisa grande! Tem lados bons e ruins. Pra quê falar dos ruins? Morar com alguém é bom. Não falta assunto, não tem silêncio. Agora, veja você, eu saio p/ onde quero, volto a hora que quero. Por outro lado, às vezes (poucas, admito, mas existem) não tem onde ir. Tá tudo fechado, sei lá! Ficar sozinho é bom, às vezes, mas de vez em quando dá tristeza.

Era bom chegar em casa e ter alguém esperando, alguém p/ encher o saco que quer ver novela, alguém p/ ficar empurrando à noite da cama. Ficar sozinho direciona o papo p/ o papel (computador, no meu caso). Ter alguém me faz valorizar meu espaço, ficar sozinho me faz valorizar as companhias. Ambas situações são boas. Ambas devem ser vividas com moderação.

Mas, após idas e vindas, em um começo de setembro foi de vez, e não teve mais volta. E a vida não é assim? Após isso, minha vida ainda muda de novo. Começo minha faculdade, conheço gente nova, amigos novos, agitação. Revivo alguns bons dias de 2003/2004.

Daí, em um fim de novembro, encontro finalmente uma raposa. Continuo vivendo bem, valorizando cada vez mais meus novos amigos, e tendo o respeito e consideração de quem jogou seu livro de regras fora p/ ficar comigo. Gosto que respeitem meu espaço, já que a liberdade é direito natural! Também gosto de quem sabe respeitar seu próprio espaço.

E ano que vem já tenho algumas mudanças grandes em vista... Mas tem coisas que não mudam mesmo... Continuo incorrigível...

Obs.: pois é. Nunca havia citado a hoje ex-esposa. De tanto que fui cobrado para tal. É péssimo ter alguém cobrando as coisas. Criatividade não surge por cobrança. E quanto mais se cobra, parece que mais ela se assusta, e se esconde lá num cantinho do cerebelo, onde ela nunca deveria estar (cerebelo cuida do equilíbrio, não da criatividade). Por isso que não consigo encontrá-la.

Engraçado citar alguém num texto "póstumo" como esse. Mas tudo resume-se a duas coisas: Ana Paula, talvez você nunca leia isso, mas tivemos uma boa vida, foi bom o tempo que passamos, e foi bom morar contigo. Letícia, você VAI ler isso, e temos/teremos uma boa vida, e você será a primeira-dama! Acostume-se!

Passado e presente se confundem p/ formar o futuro. Nós é que escrevemos o futuro. Não existe 'se for p/ acontecer, acontece'. Não nos acomodemos. Não deixemos 'a vida nos levar'. Somos mais importantes que isso...
Vida, oh vida...

Interações Humanas

O que é beleza e o que atrai?

Beleza é conceito dúbio, normalmente associado à simetria e embasado por conceitos culturais. Um afegão deve achar horrível uma mulher de biquíni. Claro, pois em sua cultura isso é uma vulgaridade de extremo mau gosto, que deve ser punida com uma explosão em nome de Alá (brincadeirinha...). Um francês deve se matar de tesão ao ver um sovaco cabeludo, e um americano ao ver um bacon ou uma arma de fogo.

Na minha opinião, o conceito de beleza é mais simples que isso, pois é geral: ser belo é fazer com que todos se sintam atraídos. O corolário disso é que beleza é poder. Não o poder vulgar que é acessível a qualquer um. Chamo de poder vulgar, por exemplo, possuir uma arma. Se eu estou num bar, e alguém começa uma briga e ao ver que vai apanhar tira uma arma, não sinto a menor simpatia pelo sujeito. Não conseguiria vê-lo como poderoso, apesar de que sim, ele detém o maior poder naquele momento. Mas na verdade ele foi fraco. Apelou. Qualquer um com uma arma na mão teria poder igual.

Por outro lado, se ele tira a arma p/ afastar os trinta companheiros de seu oponente e propõe uma briga justa, somente os dois, sem arma e sem companheiros, aí sim eu vejo poder. Claro, os dois precisam ter o mesmo porte também, pois se eu sei que sou faixa preta em 200 artes marciais e peso 200kg de músculo e chamo p/ brigar um nerd que pesa 50kg de livros e 10kg de óculos estaria sendo tão desleal quanto o cara do exemplo do parágrafo anterior. Mas não é exatamente desse poder que estou falando.

Existem várias formas de poder. Acima, citei duas. Mas o que é vinculado à beleza é, digamos, um poder metafísico. Não é força física. É a possibilidade de fazer o que quiser com os humanos ao seu redor. Hum, tá difícil de eu me explicar... Mais exemplos, então.

Imagine uma menina feinha. Mas ela tem tanta auto-estima, que, sem ser arrogante, exala...poder! Uma mulher bem-resolvida, independente, livre, forte. Que quando um rapaz vai chegando perto na balada, e ela não está a fim, consegue deixar isso claro sem ser mal educada. Também não precisará fazer doce caso esteja interessada, pois isso é coisa de quem precisa se valorizar, precisa de um cara babão. Se ela já se sente valorizada, não precisa disso.

Agora imagine uma menina linda, mas que não se sente segura nem p/ conversar olhando nos olhos. Anda encurvada, com vergonha, se veste de forma a se esconder. Uma pessoa sem auto-estima é a pior coisa que existe. Se um cara chegar nela na balada, é capaz dela achar que o cara está tirando uma da cara dela, ou que é alguma aposta, e dar um passa-fora nele.

Ou seja, a menina feinha se mostra, pois se acha bonita e, sendo assim, SE TORNA bonita. A bonita fica feia, enclausurada em seus traumas. Não consegue passar a mensagem: eu sou livre! Esta é a mensagem que atrai. Isso é poder: ter total controle sobre sua própria vida e decisões. É isso que atrai, e o que faz exercer poder sobre quem está ao seu redor.

Aliás, um exemplo simples de que auto-estima traz poder: imagine que você está passando, e acontece um acidente de carro com feridos. Você vai ajudar, e grita 'Alguém chame uma ambulância' sem ter sido imperativo. Talvez alguém até chame, mas pq chamaria de qualquer forma, não por causa do seu pedido. Agora, se você apontar na direção de um curioso e disser, de forma direta e imperativa: 'Você aí de camiseta verde, ligue p/ uma ambulância', ele VAI atender sua ordem. E é preciso muita auto-estima p/ dar ordens p/ desconhecidos.

Voltando às mulheres... Um amigo meu teve um casinho de uma noite com uma menina que tinha um defeito físico. Ela andava de bengala, tal. Entretanto, tinha um humor, uma energia surpreendente. Certamente, se ela fosse retraída e se tivesse vergonha desse defeito, jamais teria atraído a atenção deste amigo meu. Mas não, ela emitia poder, ela mostrava que era independente!

Existem homens que preferem submissão. Bom, vou falar bem rápido sobre isso: precisa ser muito lixo p/ querer alguém submisso ao seu lado. Claro, pois se eu quiser alguém pior, é pq alguém do mesmo nível que eu seria insuportável p/ mim. Eu preciso de alguém pior p/ que eu me sinta bem, p/ que eu me sinta grande, p/ que numa comparação eu saia vencendo. Eu, particularmente, prefiro as iguais a mim. Assim, se eu ganhar, não será por uma comparação injusta, e sim por merecimento.

E eu sou bastante competitivo, e tenho uma auto-estima beeeem grande... Acho até que estou certo nessa minha teoria, pq sinceramente não acho que eu seja tããão bonito assim p/ atrair mulheres lindas. Deve ser o estilo! :-)

25 dezembro 2006

O símbolo Pinochet

Pinochet morreu.
Finalmente, ouso dizer. Assim, acaba um símbolo que boçais pseudo-esquerdistas não viam a hora de desconstruir. Pergunto: para quê?

Pinochet morreu, e acabou com a chance de esquerdistas comemorarem uma condenação. Sim, pois o governo autoritário de Pinochet foi um governo de direita. Para os esquerdistas, o problema não é o autoritarismo, a ditadura. O problema não é a falta de liberdades civis. É o governo ser de direita. Ditadura de esquerda pode. Enquanto Pinochet é um porco safado, Fidel faz o que faz por ser necessário. Esquerdistas não querem democracia. Esquerdistas querem poder. Querem um Estado de esquerda.

O Estado não deve ser de esquerda, nem de direita. O Estado é democrático. O governo é que pode seguir uma ideologia. Ah, mas esses revolucionários teimam em misturar tudo em uma sopa sem meios termos.

Eu leio vários blogs por aí. Em um deles, cujo dono é um petista que não tem vergonha de dizer que Lula é de esquerda e bate no peito p/ falar mal dos EUA enquanto usa um serviço norte-americano, li um texto que criticava a idéia de que Pinochet foi autoritário e repressor, mas salvou a economia do Chile. Bom, até aí tudo bem, eu sou liberal, então uma ditadura p/ mim é uma merda de qualquer forma. O que me chamou a atenção foi a quem o autor dá o crédito pelo avanço da economia chilena: os espíritos de Allende e de Karl Marx.

Ah, esses esquerdistas e suas fábulas maravilhosas... O mundo de alguém de esquerda é tão simples que me dá vontade de ser feliz pra sempre. Vejam como é simples: existem os bons e os maus. Não tem meio termo. Ou é bom (Fidel, Guevara, Allende) ou é mau (Pinochet, Thatcher). Veja, o texto que li diz que Pinochet implantou o ideário neoliberal no Chile. Aí você, leitor, que não é burro e sabe o que é o neoliberalismo, e se não sabe vai procurar saber antes de acreditar no que foi disseminado por aí, como se fosse algo ruim, deve se perguntar: mas como um governo autoritário pode ser neoliberal? Pois é, eu também estou me perguntando isso.

Mas o fantástico não é só isso. O autor do texto diz que durante os 10 anos do neoliberalismo o Chile foi à falência. Então, eis que em uma manhã de sol, Pinochet resolveu seguir a cartilha socialista e recriou o salário mínimo, devolveu poder aos sindicatos (sindicatos estão para esses esquerdistas como igrejas estão para os católicos: são templos sagrados), enfim, várias medidas que, segundo o autor, Allende faria. O fato de que possivelmente Allende se tornaria um ditador como Fidel não vem ao caso. Ele era o Salvador da pátria (pegaram, pegaram??), e as coisas boas que Pinochet fez foram apenas idéias roubadas de Allende.

Após algumas bobagens e alguns números fora de contexto (esquerdistas odeiam contexto, pois isso tira o caráter booleano de todo o negócio. Lembrem-se que para esquerdistas o mundo não tem nuances: ou é preto ou é branco, ou é bom ou é mau). E o autor conclui, eufórico e provavelmente babando de tanta felicidade: "Então é isso. Keynes e Marx, e não Milton Friedman, salvaram o Chile."

O que posso tirar de tanta besteira? Que esquerdistas não pensam. Não é possível. Incrível como alguém acredita em coisas sem nexo, em contradições piores do que as da bíblia. Incrível como alguém pode recriminar uma ditadura, e aceitar uma outra, sendo que as duas são de gente de uniforme militar que come muito bem enquanto seu povo está na miséria (e mesmo se não estivesse, não justificaria!!).

Incrível como ainda ouço gente falando bem de Cuba, falando que seu povo tem saúde e educação. Ora, um cubano não tem poder nem p/ escolher sair do país, só tem acesso à informação regulada pelo governo, e isso é ter educação? Será que um cubano tem direito de ler as idéias de Friedman, de Max Stirner, de Marx e analisá-las? E isso é ter educação...

Concluo que para ser esquerdista é preciso não ter senso de lógica, e apenas fé. Ou seja, daí é fácil observar o motivo pelo qual Marx é contra religiões: o que ele próprio prega É uma religião! Sabem como é a concorrência, não é...

22 dezembro 2006

Interações Humanas

Ingratidão

Gratidão: reconhecimento de uma pessoa por alguém que lhe prestou um benefício, um auxílio, um favor etc.; agradecimento.

Acho que não existe sentimento mais completo e tão superior quanto este. Mais complexo do que o amor, a gratidão é o verdadeiro ato de desprendimento e reconhecimento. É fato que precisamos de outras pessoas, mas nem todas as pessoas aceitam essa dependência. Quanto digo 'outras pessoas', estou falando de outros humanos em geral, não pessoas específicas.

A existência da sociedade demanda este sentimento, pois se a confiança é a base de todas as interações humanas, a gratidão é sua consequência direta. Gratidão nada mais é do que reconhecer o esforço feito por outra pessoa em seu (seu mesmo, não dela) benefício. Braços da gratidão estendem-se desde o agradecimento até o amor. A gratidão pode existir até entre inimigos, portanto, sobrepuja o ódio, a dor.

Mas o que poderia causar o inverso deste sentimento tão complexo, completo e necessário para a sobrevivência das relações humanas?
Bom, acredito que outros sentimentos bastante complexos também (como o próprio ódio, o ressentimento) podem, em alguém com caráter, digamos, não muito consolidado, alterar o fluxo normal desta interação. Alguém profundamente magoado com determinada situação, e que não tenha controle sobre seus sentimentos poderá projetar sua frustração em forma de ofensas dirigidas à pessoa que a ajudou.

Mas pq alguém faria isso? Bom, não existe maldade, nem bondade. Uma pessoa que nós julgamos que seja má não pensa isso de si mesma. Ela tende a criar situações que justifiquem seus atos, ou seja, qualquer que seja seu ato, não terá sido por maldade, e sim por determinada razão, mesmo que essa razão somente seja válida p/ ela mesma. Todos nós agimos assim, a cada momento justificando atitudes que, em teoria, seriam mal vistas pela sociedade.

A pessoa ingrata faz isso. Esquece que a outra pessoa sofreu p/ ajudá-la, e imagina uma situação onde a outra pessoa fez o que fez por interesse, por exemplo, e não por puro desprendimento e solidariedade. Um exemplo: se eu vender meu carro p/ dar todo o dinheiro p/ ajudar alguém, e essa pessoa for ingrata, ela não verá o ato, a atitude que eu tive de abrir mão de uma conquista pessoal em benefício exclusivo dela. Ela verá que eu fiz isso pq o carro estava velho, ou pq eu já queria vender o carro mesmo, e que eu poderia ajudá-la de milhares de formas diferentes sem ser com dinheiro e eu só penso em dinheiro e dinheiro não é tudo na vida, etc, etc.

Eu até concordaria: se eu fosse um bilionário e desse 5 mil reais p/ ajudar outra pessoa, isso não representaria prejuízo nenhum p/ mim. Mas o ato de eu vender meu carro p/ conseguir este valor mostra o desprendimento. Estou me prejudicando p/ beneficiar alguém.

Qual é o ponto, portanto? A pessoa ingrata não sabe que é ingrata. Pelo contrário. Ela realmente acredita estar certa, acredita que conseguiu alguma coisa sozinha, sendo que muitos se prejudicaram para que ela conseguisse isso.

As relações humanas são bem complexas, e este ponto é bem complicado. Basicamente, não podemos dizer que uma pessoa é a certa e as demais estão erradas, pois cada um de nós vive uma realidade diferente, pessoal. Cada um de nós percebe o mundo de forma diferente. Existe, claro, a realidade objetiva, compartilhada por todos nós, mas existem sentimentos (e a gratidão/ingratidão é um deles) que está fora dessa realidade objetiva. Ele existe puramente na percepção de cada um. Assim como a maldade e a bondade. A maldade sempre está nos outros, nunca em si mesmo.

Não existem pessoas boas, nem pessoas ruins. Existem situações e percepções diferentes.

21 dezembro 2006

Deus: a fronteira final

Já falei algumas vezes sobre esse assunto, mas sempre é bom relembrar: deus está onde a ciência (ainda) não alcança.

Deus já foi o raio, o trovão, o mar bravio. A ciência explicou a energia elétrica, o estrondo provocado pelo aumento brusco da temperatura do ar, e movimentos de marés. Daí deus foi p/ mais longe. E onde está deus AGORA? No metafísico, no espiritualismo, não no mundo material. Ou seja, está fora de nosso alcance atual.

A ciência explica a vida. Mas ainda não explica os extremos. Explico-me: ainda não há consenso sobre quando um amontoado de células passa a ser uma pessoa. Também não há consenso sobre quando exatamente pode-se dizer que uma pessoa está morta. E adivinhem onde está a religião? Exatamente, brigando contra o aborto, dizendo que é assassinato, e brigando contra eutanásia, ortonásia, e similares (ainda quero falar sobre esses assuntos por aqui).

As ideologias religiosas aproveitam-se da ignorância sobre um assunto para satanizá-lo ou idolatrá-lo, de acordo com a vontade (geralmente política) dos comandantes das mesmas. Isso, claro, no caso dos Estados desvinculados de igrejas (talvez essa quebra de vínculo seja um dos maiores causadores do avanço científico do século passado). No caso de Estados ligados à alguma religião, vemos até hoje "guerras santas", mártires, etc, etc.

Agora, uma dúvida: que moral os cristãos, tão avançadinhos e tão melhores que os muçulmanos, aqueles ignorantes que obrigam suas mulheres a usarem burcas, têm p/ criticar um homem que coloca um monte de bombas e se explode em nome de Alá? Não foram os cristãos que torturaram e mataram em nome do deus-sem-nome cristão (nomes só com consoantes não são nomes, ok?)?

Especifico um pouco mais: que moral os cristãos têm p/ se sentirem melhores que os muçulmanos, por exemplo, justamente pelo desvínculo com o Estado, se se dependesse da Igreja este vínculo existiria até hoje?

Sinceramente não acredito que a ciência um dia responderá a todas as perguntas. Mas se esse dia chegar, deus não terá mais onde se esconder, e estará comprovado, por eliminação, que ele não existe (já que não é possível provar a não existência de algo). Entretanto, lamento que se esse dia chegar não existirão mais religiosos p/ verem da primeira fila o último esconderijo de "deus" sendo exposto: a ciência só poderá avançar plenamente quando a moral religiosa baseada em política e jogo de interesses deixar de existir.

Sabemos quando: no dia de São Nunca. E olha aí a religiosidade de novo!

20 dezembro 2006

Interações Humanas

Rápidas considerações filosóficas sobre o amor

Amar é o mesmo que pular de um prédio sem saber se haverá um colchão de ar esperando lá embaixo (considere que você não morre, apenas se machuca muito se o colchão não estiver lá): você pode se ferir, e todo mundo vai te achar um panaca por ter se arriscado à toa, ou você pode sobreviver e ser aclamado como um herói corajoso. Pegaram a analogia? Não? Tudo bem, eu já ia explicar melhor mesmo...

Existem pessoas que amam loucamente uma vez, quebram a cara por algum motivo, e se fecham em um casulo que impede a entrada de qualquer outro ser. Por outro lado, existem pessoas que de alguma forma sabem que vão quebrar a cara (talvez já tenham visto alguém sofrer por amor, sei lá), e já saem de fábrica com esse muro construído.

Bom, é uma forma de proteção, não há como negar. Efetivamente, pessoas assim não sofrem por amor. Mas também não são plenas. Não sabem como é bom o frio na barriga que dá se jogar, mesmo correndo esse grande risco.

Amar é uma arte. Você sofre muito p/ aprender. Na verdade, é como qualquer aprendizado. Você cai, mas precisa levantar. Ora, imagine se ao cair, você resolvesse ficar no chão. Ou então se você visse alguém caindo, e resolvesse que não deve se arriscar.

Há aqueles que acham que nunca mais vão amar ninguém como o primeiro amor, ou o segundo, ou o terceiro. São pessoas que se prendem de tal forma que se tornam dependentes, e não complementares. A relação deixa de ser amor p/ ser pura necessidade.

Quantas vezes podemos amar? Depende de quantas vezes será necessário. Ao gostar de alguém, goste de verdade. Se isso trouxer dor, esqueça e siga a vida. Ame-se em primeiro lugar, e em segundo, a humanidade, e não humanos específicos. Não seja dependente de ninguém, a não ser de si próprio.

Resumindo: para amar de verdade, e aproveitar os bônus que isso traz, é preciso ser otimista, ver sempre as coisas boas que acontecem. Enxergar que não é pq um relacionamento terminou que significa que não deu certo. Ora, quantas coisas boas você aprendeu, e/ou viveu?

Aprender: esse é o sentido da vida.

Fui muito vago? Falaremos disso novamente.
No próximo episódio: o que é beleza e o que atrai?
Nos próximos: Canção do amor maior e Canção do amor eterno (nomes provisórios).

07 dezembro 2006

Drummond, Drummond

Na minha vida pessoas especiais são uma constante. Não determinadas pessoas, pois (quase) todas passam; a constante é o fato de sempre existir 'alguéns' especiais. Isso é devido ao fato de que eu amo a humanidade, não um ou outro humano especificamente (não é uma verdade absoluta, eu também amo certos humanos e humanas e raposas especificamente).

Pessoas são boas p/ gente. Na verdade, tudo é muito burro e muito simples. Mas as relações humanas são tão, tão simples que os humanos resolvem complicar tudo. Às vezes uma humana tem vontade de fazer coisas com um humano, mas não faz pq os outros vão olhar torto. Todos estão com a mesma vontade, mas a idéia é: "vamos reprimir p/ complicar um pouquinho?"

E nesses pensamentos tortuosos (a retidão é deus, lembram-se? Eu sou mais o caminho torto. Existem mais possibilidades) eis que me deparo com Drummond. Inspirador

Convite Triste
Meu amigo, vamos sofrer,
vamos beber, vamos ler jornal,
vamos dizer que a vida é ruim,
meu amigo, vamos sofrer.

Vamos fazer um poema
ou qualquer outra besteira,
Fitar por exemplo uma estrela
por muito tempo, muito tempo
e dar um suspiro fundo
ou qualquer outra besteira.

Vamos beber uísque, vamos
beber cerveja preta e barata,
beber, gritar e morrer,
ou, quem sabe? beber, apenas.

Vamos xingar a mulher,
que está envenenando a vida
com seus olhos e suas mãos
e o corpo que tem dois seios
e tem um umbigo também.
Meu amigo, vamos xingar
o corpo e tudo que é dele
e que nunca será alma.

Meu amigo, vamos cantar,
vamos chorar de mansinho
e ouvir muita vitrola,
depois embriagados vamos
beber mais outros seqüestros
(o olhar obsceno e a mão idiota)
depois vomitar e cair
e dormir.
____

Consolo na praia
Vamos, não chores
A infância está perdida
A mocidade está perdida
Mas a vida não se perdeu

O primeiro amor passou
O segundo amor passou
O terceiro amor passou
Mas o coração continua

Perdeste o melhor amigo
Não tentaste qualquer viagem
Não possuis carro, navio, terra
Mas tens um cão

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam
Nunca, nunca cicatrizam
Mas, e o humor?

A injustiça não se resolve
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido
Mas virão outros

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.

03 dezembro 2006

O quadro

Enquanto Rebeca assiste ao noticiário, nota o repórter falando de forma diferente do habitual ao referir-se à morte "dele". Parecia tremer.
Lembrou-se que "ele" não existia da forma como o repórter falava, ou da forma como as pessoas viram "seu" corpo no banheiro e no necrotério.

O delegado a deixara nervosa. O escrivão a acalmou com uma cantada barata. Não que fosse vulgar, mas lembrou-se de que no mundo tudo estava bem - "Como existe gente ridícula neste universo!".

Após o noticiário, pensou se deveria ligar para o repórter ou se deveria admirar "sua" obra. Optou pelo segundo.

Levantou-se do sofá (ah, o sofá), caminhou à cozinha. Deu um tapa no gato que insistia em dormir sobre a mesa:
-Gato desgraçado. Nem com "ele" morto você me dá sossego!

Abriu a porta e desceu as escadas. Acendeu as luzes do porão e viu a obra. O quadro a mantinha em estado de êxtase. Rebeca passava horas admirando os traços, as cores. Não, aquilo não era comum. Não era humano. Impossível.

O telefone tocou, e Rebeca correu para alcançá-lo na cozinha. Mais uma vez, o gato sobre a mesa. Desta vez não ligou. Ao atender, ouviu ruídos estranhos. Um frio subiu por sua espinha, e Rebeca encolheu-se na parede, cuidando para que ninguém a atacasse por trás - instinto de defesa em alerta máximo.

O telefone foi desligado. Ela discou, descoordenadamente, para o delegado.

Delegado
-O que você quer? Não sabe que não conversamos com suspeitos de assassinato? Ha ha ha.

Rebeca
Vá à merda. Preciso de você aqui. Algo está para acontecer, sinto isso.

Delegado
Vá dormir, acha que tenho 12 anos? Aliás, você bem sabe que não tenho 12 anos, não é?

Rebeca
Não estou brincando. Não fui totalmente sincera na delegacia. Existe algo que preciso contar, mas sei que não devia. Talvez seja minha fraqueza que causa essa sensação de medo. Pânico, medo não.

Delegado
Filha de uma puta, agora está me escondendo coisas?

Rebeca
Seja mais educado e terá tudo que quer de mim. Você é um cavalo, não reconheceria algo "dele" nem se estivesse na sua cara. Faça um favor p/ você mesmo e morra. Babaca inútil. E trate de dar um jeito naquele escrivão de merda. Já ouvi cantadas melhores de presidiários sem primeiro grau. E ainda dizem que é difícil ser policial. Rá. Difícil é ser bom policial. Cavalgaduras como você vemos às dúzias.

Delegado
Hahaha. Quer ser algemada hoje é? Respeite minha autoridade. Só para constar, "ele" me deixou a resposta sobre o quadro. Não que lhe interesse, pois você tem esse maldito quadro e só vê o que quer. O mais óbvio, o essencial lhe passa a quilômetros. Incompetência feminina. Falta de lógica. Mas não se preocupe. Vou p/ aí. Se não for nada demais, aproveitamos e fazemos uma fogueira com o quadro. Era o objetivo inicial mesmo. Queimar, queimar. Enquanto sinto seu corpo queimando. Poético, não?

Rebeca
Vá à merda. E a lista de ligações?

Delegado
Já disse que não falamos com suspeitos sobre investigações. Está curiosa, é? Bom, dependendo do agrado que você me fizer, podemos pensar a respeito. Só para começar a matar sua curiosidade, a lista já chegou à minha mesa. Você nem imagina a surpresa que eu tive ao lê-la. Rá, não imagina mesmo, pois só vai saber junto com todos os outros.

Rebeca
Imbecil. Não quero saber dessa porcaria. Apenas esteja aqui o mais rápido possível.

Desligou. A sensação de medo aumentava. Conversar com o delegado não ajudou. De que respostas falava? O que era o essencial? Sentiu raiva "dele", pois acreditava saber de tudo. Mas lembrou-se de que era apenas parte de algo grandioso. Ninguém sabe tudo. Nem "ele" sabia tudo. Mas ele fez o quadro. Ou disse que fez.

Desceu as escadas. O quadro não estava lá.

Rebeca (chorando)
-Foi o repórter. O REPÓRTER!

Noite 2

A noite está (quase) perfeita. A lua está linda, redondinha. A temperatura está agradável. Dá p/ ver looooonge.
É, está tudo bem sob o céu.
____

Aliás, está melhor ainda, pois eu sei que a raposa vê a mesma lua que eu vejo.

01 dezembro 2006

Desigualdade social

Questão sobre a necessidade da desigualdade social, que funciona como promotora da competitividade e, portanto, para o avanço da sociedade.

No caso de uma base da pirâmide social que realmente tenta competir, a desigualdade é mantida sob controle e a sociedade avança. Mas no caso de uma base apática, ou de uma ponta muito competitiva, a diferença social tende a aumentar, e isso acaba gerando os problemas sociais.

Você não acha que não existe uma forma universal de justiça e, portanto, cada sociedade teria uma noção de justiça mais adequada para si (em caso afirmativo, até o totalitarismo poderia ser adequado para alguma sociedade)?

Ah, meus tempos de faculdade de Filosofia...